Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Tolerância zero

23/03/2007


O futebol, graças aos deuses da bola, é um jogo de perde e ganha. Muito se perde, muito se ganha. Talvez por isso seja chamado de esporte, ou competição. Não existe um time no mundo da bola que só viva de vitórias, só tenha experimentado o sabor gostoso da conquista.

Sou um cara consciente, tenho os pés no chão e tomo cuidado, hoje em dia, quando toco no assunto futebol. Sou atleticano, de coração, graças a Deus, mas não vivo na ilha da fantasia. Sofri e já penei demais com o meu time, já amarguei derrotas, já pulei de alegria e quase enlouqueci na conquista de títulos. Diante de muitos fracassos, sentei e chorei, mas incrivelmente, quando levantei a cabeça, meu amor pelo Atlético estava fortalecido. Engraçado, mas assim é o futebol, e talvez por isso eu tenha aprendido a amar tanto o Atlético.

E quando nós somos vacinados, estamos menos propensos à frustração. Por isso esperei com bastante tranqüilidade a primeira derrota do Atlético após tantos e tantos dias de sucesso. Torci como nunca, mas com o passar dos minutos e com o gostinho de derrota no coração triste, lembrei que o Atlético é, assim como o Vitória da Bahia, um time de futebol. E não vence todas. E não é perfeito, assim como nada na vida é perfeito.

O Atlético foi engolido pelo time baiano, não teve tempo de respirar. Fez uma partida ruim, logicamente, mas os nossos endiabrados jogadores de alguns dias atrás, por serem humanos e sentirem a pressão de um time que também tinha o desejo de vencer, sucumbiram e foram nocauteados em Salvador.

Pronto. Para os corneteiros de plantão e para os inimigos de Vadão, foi um prato cheio. Ecoaram as vozes do “eu já sabia”, “eu avisei”, “eu não confio nesse time”, “era tudo mentira”, e muitas outras frases montadas pela moçada da corneta. Vadão então, que era um cara sério, competente, cheio de objetivos e que estava com a equipe em suas mãos, passou a ser considerado o alvo principal da turma da “perfeição.” Hoje, exatamente neste dia, Denis Marques não é atacante para o Atlético, Ferreira é um enganador, Evandro é imaturo, Alan Bahia é cachaceiro, entre outros. Tudo bem, nossa zaga, há muito tempo por sinal, precisa de correções, mas não podemos julgar com tanta precipitação o restante do grupo, muito menos o técnico Vadão.

Daqui a pouco, daqui a exatamente dois dias, o Atlético voltará a vencer. Por isso hoje não estou revoltado, não estou irritado com a reação de muitos e muitos atleticanos. Estou novamente apenas aguardando, pois Denis voltará a ser um grande goleador, Cléber será de novo um baita goleiro e Alan Bahia será um verdadeiro tanque de guerra em campo. O time voltará a ser organizado, ao comando do excelente Vadão.

Eu acredito nisso, e acredito também que seremos os vitoriosos no jogo de volta, contra o time do Vitória, que se aproveitou da noite ruim do Atlético, para vencer com justiça o primeiro duelo. O torcedor que faça a sua parte, e pare de reclamar tanto. O torcedor que sugira, que critique, que mostre a sua insatisfação, mas que possua o mínimo de bom senso para não fazer do céu, o inferno. O Atlético não precisa disso.

Daqui pra frente acabaram-se as desculpas. Todos os jogos são jogos para casa cheia. Domingo nasce uma nova fase, e o caldeirão já passou da hora de voltar a ser o verdadeiro caldeirão. Que o Atlético e sua torcida comecem a ganhar essa vaga para a Copa do Brasil neste próximo final de semana, fazendo com que a dança dos dois torneios ao mesmo tempo só nos traga bons frutos. Que o torcedor ranzinza volte a sorrir, empurrar o Atlético para a conquista e relembrar como se vibra, como se canta, como se pula para ajudar o Furacão a vencer. Que os sócios, não sócios e pretendentes não esperem do Atlético só conquistas e espetáculos até o final do ano. E que lembrem-se: o Atlético é um time de futebol.


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