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Carlos Antunes
Carlos Roberto Antunes dos Santos, 79 anos, é professor de História e foi Reitor da Universidade Federal do Paraná entre 1998 e 2002. Filho do ex-treinador Ruy Castro dos Santos, o famoso Motorzinho, técnico que criou o célebre Furacão de 1949. Nos anos 50 e 60, jogou nos juvenis do Atlético, sagrando-se bicampeão paranaense. Foi colunista da Furacao.com entre 2007 e 2009.
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Em busca da utopia perdida
18/03/2007
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Copa do Mundo de 1974, na Alemanha. A Holanda traz, pela primeira vez, o futebol solidariedade, em que os jogadores circulavam em campo, não havia posições fixas e isso exigia dos mesmos técnica apurada, como era o caso de J. Cruijff, e ótimas condições físicas. Era a “laranja mecânica” ou o “carrossel holandês” do treinador Rinus Michels que se impunha, passando como um trator pelos adversários a sua frente. O jogador do país adversário, num mesmo lance, se via cercado e abafado por quatro ou cinco holandeses: era a síndrome das camisas alaranjadas. Até hoje, não se encontram explicações para derrota na final para a Alemanha e tudo ficou como se fossem coisas do futebol. Inédita e original, a “laranja mecânica” foi uma grande inovação, verdadeira ousadia, um esquema que revolucionou o futebol. Nesse sentido, a utopia virou realidade, fazendo a história.
Muitos anos se passaram, outros esquemas de jogo apareceram, o futebol tornou-se mais defensivo, medroso e menos ousado, com a concepção que o placar de 1 a 0, em certos casos, é goleada. Desta forma a tecnocracia da ordem invadiu o futebol, passando a prevalecer o ajuste tático-disciplinar de segurança, que aniquila a improvisação, sendo que até o treinador virou professor. E o quantitativo entrou em campo, expresso em esquemas, acima de tudo, defensivo: do velho, saudoso e ofensivo 4-2-4, chegou-se hoje ao famigerado 5-4-1, intermediado pelos medrosos 3-5-2, 5-3-2 e 4-4-2. Desta forma, a matemática sentou praça no futebol com a adoção de esquemas cautelosos, seguros, eficazes, mas que impedem a criatividade e a improvisação. É o futebol de um mundo globalizado, muito igual, homogêneo e pasteurizado, próprio de uma sociedade de consumo em massa.
Mais do que nunca precisamos reinventar o futebol. Para tanto é fundamental, mesmo dentro de qualquer esquema, que o caminho da liberdade em campo possa traçar os vestígios da genialidade. Não custa sonhar, não custa ir em busca da utopia perdida. Como atleticano, vamos dar asas à imaginação e pensar num dia em que a Arena será engalanada por um carrossel rubro-negro.
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