Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Anti-americanismo de boteco

09/03/2007


O presidente George W. Bush está no Brasil. E esta visita tem uma peculiaridade: dessa vez ele veio para aprender com o Brasil. A questão dos combustíveis renováveis passou a ser ponto de vulto na vida americana. E para quem não sabe, a Petrobras é líder mundial em produção de biocombustíveis e suas ações valorizam-se dia-a-dia por isso. Desde o final dos anos setenta, usar álcool nos tanques de combustíveis é absolutamente normal para nós brasileiros. O Brasil é o único país do mundo em que o uso carros flexíveis já é amplamente disseminado, o caro leitor deve até ter um deles e saber das vantagens. Nunca, desde os tempos das primeiras bases da ideologia de mercado criadas por Adam Smith, o Brasil teve um papel de "player", uma participação tão importante na economia mundial como pode ter agora. Não somos decisivos, mas, pelo temos alguma importância.

Na quarta-feira, os americanos do FC Dallas vieram até nós também para aprender, são os primeiros daquele país a fazer esta aproximação com um clube nacional. Muito mais que buscar grandes negócios imediatos, vieram entender como fazemos futebol, entender a essência deste esporte que dominamos e aí sim, transformar o aprendizado em um negócio vantajoso. O número de praticantes de "soccer" cresce verticalmente nos Estados Unidos, eles estão vendo que o mundo não está errado em não considerar seus "baseballs, basketballs, footbals, hockeys" os esportes mais queridos. Eles também não querem ficar de fora da monta astronômica que movimenta o futebol em todo o mundo, de bobos não têm nada. E não é à toa que o time que é o parceiro dos americanos é o Atlético Paranaense, um time administrado por gente que também de boba não tem nada. Nós temos a alma, a ginga e o conhecimento deste esporte que vem no DNA, mas, além disso, somos o único clube no Brasil que desenvolveu um estofo de profissionalismo, eficiência, inovação e rentabilidade que já está agregado à identidade da instituição. O Atlético Paranaense tem a credibilidade necessária para atrair parceiros, sejam eles americanos, chineses, coreanos, árabes, etc. Parceria é a palavra principal no mundo moderno. Nós também aprenderemos muito com eles em gestão de marketing e ativação de novos negócios, além de nos beneficiarmos com o intercâmbio com um mercado grande e rico. Bom para todos.

Receber mal gente que vem até nós para abrir um canal de cooperação mútua é de uma burrice que não se encontra nem em uma fazenda de dez mil jumentos, além de ser um desinteresse descomunal pelo sucesso e o fortalecimento do nosso amado Atlético. Parafraseando Adam Smith, que disse: "não é da benevolência do padeiro, do açougueiro ou do cervejeiro que eu espero que saia o meu jantar, mas sim do empenho deles em promover seu próprio "auto-interesse", o interesse dos americanos em aprender com o Atlético para levar ao seu país "know-how" e lucrar com isso, será o jantar cinco estrelas que nós atleticanos comeremos. Sempre tive um pensamento mais alinhado com a chamada "esquerda", mas nada impede-me de entender a mecânica do mundo de hoje e exaltar iniciativas que sejam para o bem, neste caso, o bem da nossa grande paixão, o Clube Atlético Paranaense.

As utopias acabaram. Infelizmente, não vivi o tempo em que eram algo em que podíamos nos agarrar e viver por elas. Hoje habitamos um mundo sem ilusões, cada vez mais violento, cheio de ódio e intolerância, que tem na torção de valores, no fundamentalismo religioso, na competitividade desenfreada e no consumismo exacerbado algumas de suas causas. Não vou ser ingênuo de afirmar que o império americano não tenha contribuído muito para isso. Mas os próprios americanos estão revendo conceitos. A popularidade de Bush em seu país é baixíssima, no parlamento americano, o Partido Republicano, de Bush, não conseguiu eleger a maioria e a massa americana finalmente está abrindo os olhos para as "verdades inconvenientes", como chama o ex-vice americano Al Gore uma dessas verdades.

Os americanos do FC Dallas não mereciam uma recepção tão estúpida como a proporcionada pelos integrantes da guerrilha de mentes vazias chamada "Os Fanáticos". Estes, acreditam que todos os brasileiros são bons, puros e oprimidos e os americanos todos seres desprezíveis, encarnações do anhangá canhoto. Talvez nem conheçam o próprio país em que vivem. Porque esse anti-americanismo de boteco, esse nacionalismo facista e burro? Porque este ódio dos atleticanos que co-habitam a Baixada? É porque no fundo, eles têm a mesma vontade de dominar que os americanos supostamente têm e que tanto esses "torcedores" criticam. Mas diferente dos americanos, "Os Fanáticos" não oferecem mais nada de útil em troca, a não ser intolerância, violência e grosseria. Hoje, oferecem apenas protestos estúpidos contra pessoas que não são responsáveis pelas controversas políticas americanas. Protestos feitos apenas porque é bacana ser "anti-americano", seja qual for o americano que vejam pela frente. É um engajamento inócuo em uma ideologia inexistente. Simplesmente a mais pura falta do que fazer. Ou algum interesse sombrio de auto-promoção.

Antes que bumbos-bomba ou até mesmo homens-bomba comecem a ser dinamitados na Kyocera Arena, é preciso que se impeça a entrada de torcedores uniformizados desta facção nas dependências do Atlético. Pois, quem ao invés de gritar "Alex", "Denis", "Ferreira", "Marcão", "Atlético", prefere gritar "Osama Bin Laden", ou "Saddam Hussein" e xingar seus próprios irmãos de cores, é sempre uma ameaça real.


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