Jean Claude Lima

Jean Claude Lima, 56 anos, é publicitário e jornalista, sócio-proprietário da W3OL Comunicação Ltda. Compreende o fato de ser atleticano como uma complementação da sua própria existência e professa essa fé por todos os lugares do mundo onde já esteve ou estará. É pai de uma menininha, Mariana, que antes mesmo de nascer, já esteve no gramado da Arena, e agora de um menino, Rodolfo, batizado com uma camisa onde se lia "nasci atleticano".

 

 

Furacão abandonado pela torcida

08/03/2007


A noite em que Os Fanáticos abandonaram o Atlético

Fui para casa depois dos jogos de ontem intrigado com o que havia acabado de presenciar. Os Fanáticos foram embora de um jogo do Atlético! Justo eles que de um jeito ou de outro sempre estiveram ao lado do time.

Analisando as razões que levaram a tal atitude, elaborei alguns cenários. No primeiro, o protesto seria contra o imperialismo norte-americano, que no entendimento deles estaria ali personalizado na figura dos convidados da noite. Sala, Juan Carlos, Carlos Ruiz, Arturo Alvarez seriam ícones do imperialismo, apesar de carregarem nomes latinos e buscarem construir carreiras de sucesso lá na terra do Tio Sam. Na segunda hipótese, o protesto seria uma grande salada, onde o produto final seria formado pela equação ódio a Petraglia + ódio a Bush + ódio ao preço dos ingressos = costas para o time + abandono do estádio. Acho que essa última seria a equação mais provável. O fato é que fomos brindados com um show de deselegância, onde os nossos convidados foram responsabilizados pelas atrocidades cometidas por Bush, persona pela qual pessoalmente eu não nutro nenhuma admiração. Aliás, não vejo diferenças significativas entre ele e Osama Bin Laden, Saddam ou qualquer outro genocida que tenha existido ou exista no mundo. Pobre FC Dallas!

A marca da noite que ficará para sempre na história do clube, é a de que os Fanáticos deram as costas ao Atlético e abandonaram o estádio. Se foi por questões ideológicas, a coisa se torna mais complicada, pois recentemente apoiaram candidatos que defendem a fé que George Bush professa, baseada na "livre iniciativa" e no "capitalismo moderno".

A atitude ganhou a reprovação dos demais torcedores presentes no estádio. Se essa marca persistir, está criada uma ferida que demorará a cicatrizar, completamente desnecessária e da qual nós honestamente não precisávamos.

Lutar por ingressos mais baratos é lícito, justo, honesto e não envergonha ninguém. As lideranças dos Fanáticos, em especial Júlio e Juliano, sabem como é duro ver muitos torcedores fora do estádio por não terem condições de pagar os preços cobrados hoje na Arena. Mas há outras formas de discussão da questão que não passam pelo abandono do estádio e pelas costas viradas ao time. Façam campanhas, promovam fóruns ou façam panfletos mas nunca, nunca mesmo, fiquem de costas para o Atlético.

Há lições em tudo isso. Membros da diretoria do clube têm posições intransigentes em relação aos "organizados". Na história recente do clube, esses radicais foram até defendidos pelos "vagabundos" como disse um outro colunista do site. Defendo a criação de outros mecanismos de participação da torcida no estádio, como incentivos a quem levar a bandeira mais bonita, o grupo mais bem caracterizado ou qualquer outra forma de participação que revele criatividade e em prol da alegria. Se os Fanáticos não servem, precisamos de alternativas para que o estádio não se transforme em uma pedra de gelo, apesar dos esforços da reta da Getúlio ontem de noite. Quem sabe uma bateria própria? Quem sabe uma organizada oficial? Quem pode dar o primeiro passo em defesa da construção de uma nova ordem?

Sou novo nessa coisa de escrever para um site. Mas achei necessário manifestar minha opinião, pois já estive na condição de dirigente, cronista esportivo e membro de uma torcida organizada. Reafirmo minha convicção de que debatendo, podemos construir novos consensos, novas perspectivas.

De resto é Atlético, sempre Atlético.


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