Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Torcedor moderno?

16/02/2007


Não consigo entender boa parte da torcida do Atlético. Sei que as cobranças devem mesmo ocorrer, mas muitas vezes tenho a impressão de que a perfeição é obrigada a chegar aos olhos do torcedor. Se não for exatamente da maneira como muitos torcedores exigem, não está bom, nunca estará bom.

O Atlético não era assim. Especialmente nas décadas de 70, 80 e até meados da década de 90, o povo atleticano, em sua grande maioria, era um pessoal mais moderado, mais tolerante e mais compreensivo. Vejam bem, não estou querendo afirmar que tenho saudades dos tempos de tanto sofrimento, anterior ao comando de Mário Celso Petraglia. Não, não é isso, é apenas um comparativo de como a exigência passou a fazer parte da vida do Atlético. Talvez boa parte de tudo isso se deva justamente ao crescimento que o Atlético obteve desde 1995, e talvez também o preço dos ingressos exerça forte influência, mesmo que lá no fundo de cada torcedor, de ver o time com a obrigação de ser perfeito dentro de campo. “Eu paguei quarentão, quero ver meu time dar show” – mais ou menos por aí.

Não acho que seja bem assim. O torcedor está aos poucos (e isso é extremamente perigoso, pois pode ser um ato natural) deixando escapar a essência que sempre fez parte do Atlético. Ora, quantas e quantas vezes acompanhamos o Atlético “apanhar”, sofrer com a falta de qualidade, perder jogos e mais jogos, e nem por isso parte dos atleticanos foi tão cruel com o clube ou com a diretoria. Confesso, o atleticano nunca foi tão chato. Não me lembro do último jogo que fui na Baixada e não me irritei com algum torcedor, seja da Getúlio, da Madre Maria ou Buenos Aires. Como estão irritantes! Tem gente que se dá ao luxo de xingar o jogador do próprio time antes mesmo do jogo começar. Só por curiosidade, às vezes dou uma “olhadinha” para ver se o cara está mesmo com a camisa do Atlético, com algum “modelito” que simbolize o seu time do coração. Sei lá, às vezes o elemento pode estar no lugar errado, e se estiver perto de mim, pode estar no lugar errado e na hora errada. Não suporto esse tipo “moderninho” de torcedor.

Percebendo o Atlético por um lado mais técnico, é evidente que o time precisa de melhorias, necessita de ajustes e precisa produzir mais. Um dos aspectos é o famoso gol das jogadas aéreas, como observou com perfeição o colunista Sílvio Rauth Filho, em sua última coluna. É um fator que preocupa, mas é um problema que deve, com certeza, ser resolvido. Também não concordo com a titularidade de Cristian, isso venho falando e escrevendo desde o ano passado, e entendo que se o jogador continuar assim, sem rendimento e com muitas falhas individuais, naturalmente vai para o banco, o que por sinal, não é vergonha pra ninguém. Mas Cristian, desconfio eu, talvez seja o talismã do técnico Vadão. É o tipo do jogador que o torcedor prefere esperar o decorrer dos jogos para criticar, pois o jogador é um tremendo “cala a boca do torcedor.” Não precisa ir longe, é só relembrar os três últimos jogos, dois gols e bolas na trave. É por isso que Cristian ainda está na equipe, mas volto a dizer, se o jogador não se esforçar mais, é questão de tempo, pouco tempo.

Então vejam, eu não tenho a opinião muito diferente de muitos que já estão de “saco cheio” com o Atlético, só acho que a torcida está totalmente intolerante com o time, com medo talvez, de assistir ao fiasco de 2006. Este ano (já falei isso aqui mesmo) não será como o ano passado, tenho convicção disso. Tudo bem, o Atlético teve um início de campeonato instável, jogando com os reservas, e mesmo assim quando o time titular “entrou na parada”, o Furacão estava na oitava colocação. Tá certo, aí este mesmo time goleou o fraco time do Nacional e o também fraquinho time do Roma. Há quem diga que bater em morto é moleza. Agora comparem os “mortos” do ano passado: Adap e Volta Redonda, dois times que nos deixaram a ver navios em duas competições. Foram dois torneios jogados no lixo, primeiro porque passamos por um passeio de técnicos, segundo porque a maldita pré-temporada de 2006 foi aquela lambança que todos sabem. Este ano começou, querendo o torcedor ou não, bem organizado. Tivemos uma pré-temporada, temos um baita preparo físico e iniciamos o ano com um técnico, que pode não ser o preferido de muitos, mas é um cara competente e que precisa do apoio do torcedor.

Portanto, torcedor atleticano, paciência não faz mal a ninguém. Não vejo motivos para tantas críticas e tanto desespero. O Atlético está aí, engrenando, se acertando, e não tenho dúvidas que iremos muito mais longe do que fomos em 2006. Não podemos esquecer aquela magia atleticana que engrandece e embeleza ainda mais o Joaquim Américo. Não podemos deixar de apoiar o Atlético, jamais! Exigir sim, cobrar também, nos momentos precisos, mas antes de tudo, precisamos lembrar que existe uma relação muito forte entre time e torcida, e isso não pode ser desconsiderado ou simplesmente ignorado. O torcedor do Atlético é compreendido sim, mas precisa voltar a ser um pouco menos irritante, um pouco mais paciente e bem mais tolerante. A Baixada de hoje está recheada de cornetas e torcedores que exigem, nada mais, nada menos, que 100% de perfeição e já desistem de apoiar o time ao primeiro passe errado. Isso não ajuda em nada o Atlético, pelo contrário, só atrapalha.

Eu sinto falta daquela velha e boa torcida do Atlético.


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