Rogério Andrade

Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.

 

 

Triturando ervilhas

10/02/2007


Faço questão de iniciar a coluna de hoje com um agradecimento especial. Muita gente que passou e ainda está passando por aqui, no espaço “Fala, atleticano”, está dando um show de informações, opiniões, recordações, histórias sobre o Atletiba, títulos, conquistas, times vitoriosos, enfim, cada autor, com sua propriedade e estilo, está manifestando de forma sublime grandes feitos do Atlético. Portanto, deixo aqui nessas primeiras linhas, o meu agradecimento e os meus sinceros parabéns a todos os autores dos textos publicados.

Para ilustrar, relacionei trechos de alguns textos que merecem destaque:

Explosão da torcida! Uh Caldeirão! Era Oséas escalando a grade, era festa pra todo lado! Como foi gostoso ver pela primeira vez os coxinhas engolindo a seco o que haviam falado. Apito final, dever cumprido. Meu primeiro Atletiba não poderia ter sido melhor!

Foi quando começou a funcionar a artilharia rubro-negra: 1, 2, 3, 4, 5, 6. Nossa, fiquei doido, os coxas tentaram sair do bar antes de terminar o jogo, eu fui até o portão, bati o cadeado e falei: "eu agüentei vocês, agora vocês vão ter que agüentar um atleticano solitário e cuzido."

O delírio na arquibancada só começava, porque Andrei ainda faria o quarto gol e nos descontos, de novo Jorginho Pé Murcho, de cabeça, aos 46 do segundo, fazia o gol que nos redimia. Os 5 de 95 estavam devolvidos. E de virada. E ainda com dois gols de cabeça do cracaço Jorginho Pé Murcho. Um show. Inesquecível.

A festa foi incrível, os coxas se mandaram das arquibancadas, lá no Belfort Duarte, ainda sem os anéis superiores atrás dos gols. Foi em uma época diferente de hoje, as torcidas se respeitavam, os times eram uma potência, tinhamos Sicupira, Nílson, Buião, Charrão, Alfredo entre outros. Sem dúvida, de todos atletibas que vi, este foi sensasional, memorável. O 4 x 3 histórico.

Era isso que precisávamos. Nivaldo regendo a meiúca, distribuindo o jogo. Se bem me lembro, lá estava também Sotter, grande lateral direita. E assim foi que Capitão, "o homem do jogo", fazendo dois gols, junto com Ernani e sua "turma de gente boa", garantiu a virada para 3 x 2. Uma festa.

Que emoção! Com 10 anos de idade tive uma das maiores felicidades de minha vida, e mais, com um gol ilógico, espírita, inexplicável, que me fez, logo criança, ter a maior certeza de minha vida: o CAP é o maior time do mundo!

Algum gênio da raça havia inventado uma versão de “another brick in the wall”, usando os versos de uma paródia que uma rádio já fazia e a notória indecisão sexual dos coxas, a origem obscura de suas famílias e tudo o mais. A propagação boca a boca deste hino e o verdadeiro delírio pornográfico que ele causava no refrão retumbante foi o fenômeno popular mais impressionante que eu já vi em toda a minha vida. Do alto destes quase vinte anos fica a certeza de que sem a composição deste clássico das arquibancadas (hoje desvirtuado e até profanado nos estádios do Brasil) não teríamos vencido o campeonato.

De repente naquela escuridão medonha surge o sorriso branco de Dirceu. A saúde dentária do nosso herói era a confirmação. Aconteceu. Os bêbados da curva do Corneta pareciam “Já saber”. Os “anticristos” da caveira, que em todos os casos naquela hora pediram a benção do papa, explodiram. Dirceu atravessou o campo, eu delirava, só para me garantir que tinha feito o gol pra mim. Que eu podia ficar tranqüilo. Aquele era nosso. Não teve mais jogo. A bateria começou tum-tum-tum: “Atirei o pau nos coxas...”

Atletiba

Atlético x Coritiba é isso aí! Emoção certa. É voltar ao passado, recordar, sofrer um pouco, relembrar o quanto fomos humilhados, mas é também tempo de relembrar o quanto sorrimos, o quanto comemoramos e o quanto nos embriagamos com as loucuras pelo nosso querido Atlético.

Há quem diga que o Coxa, hoje, é um clube de coitados, procurando sua identidade, perdido no tempo e no espaço. Há até os que têm “dó” dos coxas. Eu não tenho dó desses verdes. Quem viveu, sofreu e acompanhou o Atlético, especialmente nas décadas de 70 e 80, jamais terá dó dos coxas. Preciso dizer que uma das grandes alegrias da minha vida foi assistir o Couto Pereira em prantos no final de 2005. Faço questão de mencionar aqui as lágrimas de Evangelino, com a pobre bandeira verde e branca em suas mãos, como que enxugando lágrimas eternas.

Assim que te quero ver, Coritiba! Chorando de tristeza, de inveja e de vergonha. Vergonha de ter “metido a mão” em títulos regionais, apenas para a satisfação em ser campeão do estado. O meu desejo é que vocês chorem mais, muito mais, e utilizem todo o espaço do “treme-treme” para guardar este passado podre e sujo que vocês escreveram.

Enquanto isso, lá vamos nós. Vez em quando desviamos o olhar para trás, ou para baixo, só para conferir se eles já encontraram um caminho pior do que este que trilham. Não podemos negar, é muito bom ganhar dos verdes, é muito gostosa essa adrenalina que antecede o clássico, assim como é incontestável a nossa superioridade absoluta. Diante de tudo isso, tenho convicção de que a segunda divisão realmente é uma injustiça para o time deles. Eles merecem mesmo é mofar na terceira. E que venha o Coxa!

”Chora, não vou ligar...não vou ligar
Chegou a hora
Vais me pagar...pode chorar...pode chorar!”


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