Patricia Bahr

Patricia Caroline Bahr, 43 anos, é jornalista e se descobriu atleticana nas arquibancadas do Pinheirão, no meio da torcida, quando pôde sentir o que era o Atlético através dos gritos dos torcedores, que no berro fazem do Furacão o melhor time do mundo. Foi colunista da Furacao.com entre 2002 e 2010.

 

 

Meu amigo coxa-branca

09/02/2007


Conversar com um torcedor do Coritiba na semana do clássico Atletiba rende sessões de boas risadas e nostalgia. Nostalgia porque percebemos o encantamento, temor e satisfação deles em, enfim, ter um “jogo importante” no calendário. Nessas horas, percebemos que a mesma sensação que tínhamos diante de um Atletiba há 8, 10 anos, eles têm até hoje. E é aí que vemos o quanto crescemos, evoluímos, aparecemos enquanto eles diminuíram, decaíram, sumiram.

A conversa também rende sessões de boas risadas, com aquela velha lorota que os coxas adoram falar para “se sentirem maiores”: ganhamos mais Atletibas, vamos jogar em nosso salão de festas, fomos campeões primeiro. Impossível não rir, um riso que mescla descaso e pena.

Nesta quinta-feira, tive uma boa conversa, na hora do cafezinho, com o Felipe. Coxa-branca daqueles que não falta a um jogo, dava para ver no olhar dele o misto de contentamento, pavor, esperança e medo, muito medo, toda vez que falava em Atlético ou Baixada. Para tentar me intimidar, ele veio com o papinho de salão de festas. Pô, Felipe, para cima de mim isso não cola não.... Cansamos de ganhar de vocês, seja na Arena, no Pinheirão ou no Couto. Na Arena, desde 2001 a gente não perde para os coxinhas. Conta outra!

Mas, além da lorota que todo coxa-branca gosta de repetir, que sempre acaba com a célebre frase do “fui campeão primeiro” (emendado por um sonoro “e daí?” da minha parte), tive que confessar, ao Felipe e agora a vocês. Desculpe-me quem pensa o contrário, mas eu adoro um Atletiba. Para quem é adepto à teoria de que o clássico regional vai acabar, de que o Coritiba não é mais rival, eu digo que penso justamente o contrário.

Para mim, rivalizar com São Paulo, Fluminense, Santos, Flamengo, Corinthians não significa, necessariamente, deixar de rivalizar com o Coritiba. Eu quero é ter a cada dia mais rivais, porque isso nos mostra o quanto incomodamos – e no futebol, quem incomoda é porque está por cima! A diferença é que, para mim (e para o Atlético), o Atletiba deixou, há muito tempo, de ser o principal jogo do ano. É apenas mais um, num calendário que ainda traz vários encontros contra outros rivais. Já para o Felipe (e para os coxas-branca em geral), eles sabem: o Atletiba é o principal jogo deles na temporada. Eles sabem que nenhuma partida contra Brasiliense, Marília, Ituano, Gama ou CRB da vida trará a eles a mesma mobilização, a mesma vontade de vencer que um jogo contra o Atlético. Essa é a sutil diferença que nos separa dos coxinhas. Para ambos o Atletiba é importante. A diferença é que nós temos a garantia de um calendário com outras partidas tão (ou mais) importantes pela frente. Já eles....


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