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Sergio Surugi
Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.
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Vitrine de boutique ou gôndola de supermercado?
03/02/2007
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Ninguém mais tem dúvida de que a soma da Lei Pelé com a supervalorização absurda dos jogadores de brasileiros, está fazendo com que o futebol fique quase impossível não só de ser administrado, mas também de ser assistido e curtido por quem gosta.
Muita gente (incluindo eu, em alguns momentos de maior paixão e conseqüentemente de menor razão) tem reclamado da frieza da nossa diretoria, mas quando a cabeça esfria, a gente tem a obrigação de perceber que antes dos cartolas, quem está agindo com uma frieza impressionante são os próprios jogadores, envolvidos que estão por seus agentes.
Não faz muito tempo, um jogador para se valorizar, tinha que completar pelo menos uma temporada vitoriosa, senão com a conquista de um título, pelo menos chegando entre os primeiros. Atualmente, eu diria nestes últimos dois anos, o mercado internacional tem demonstrado uma avidez tão grande por craques (ou não tão craques) brasileiros que um cara que joga em um time medíocre, mal colocado na tábua de classificação, faz um gol de barriga e no dia seguinte tem um empresário empurrando (com sucesso) o jogador para um time do exterior.
Se tal cenário é bom para a boleirada, aqueles que gostam do futebol competitivo devem ficar atentos para o perigo que isso representa. A cada dia que passa são mais raros os jogadores que se comprometem com o objetivo do clube em que jogam, para pelo menos uma temporada. Você já não ouve mais a clássica declaração dos atletas: “estou concentrado no grupo e só vou pensar em transferência depois do título”. Hoje se bobear tem gente que é capaz de largar o time na mão em véspera de decisão, basta surgir uma proposta estonteante, o que por sua vez, está cada vez menos raro. Cada um quer livrar o seu, doa a quem doer. Não existe identificação alguma com o time ao qual estão circunstancialmente servindo.
Com toda esta ganância, que até em certa medida se pode entender, fica muito difícil para um clube fazer planos para uma temporada completa. Tem o time do primeiro semestre e o do segundo semestre, muitas vezes bastante diferentes. Durante as competições a preocupação com os resultados em campo está em segundo plano. Só se especula, pensa e fala nas diversas possibilidades de ganhar (muito) dinheiro em um outro clube. A cada iminência de abertura ou fechamento da já famosa “janela” do mercado europeu, o torcedor deve ficar preparado para o pior. Eu, inclusive, já marquei no meu calendário as tais datas, pois estou certo que isso vai me ajudar a interpretar os altos e baixos no desempenho e no comportamento de alguns jogadores, durante o ano.
O que acontece hoje no mercado do jogador de futebol no Brasil não lembra mais uma vitrine, onde mercadorias especiais ficam expostas e as suas qualidades são exacerbadas pela decoração, o perfume, a música e o atendimento da loja. Muitas vezes é o próprio produto exposto que atrai o cliente. O que se vê nos tempos atuais é mais parecido com as gôndolas de um supermercado, onde a rotatividade de produtos de conveniência é tanta, que o estabelecimento é obrigado a contratar funcionários só para repor o estoque, a todo o momento.
Os clubes também têm alguma culpa na formação desta conjuntura, pois não é incomum ver dirigente que usa como único argumento para a motivação do jogador, a possibilidade de mais tarde vir a ser transferido para um time que propicie a tal independência financeira (termo que no futebol deve ser entendido como “ficar milionário em pouquíssimo tempo”).
Sinceramente não consigo prever onde isso vai dar, mas tenho uma certeza. O campeão brasileiro será o time que melhor conseguir conviver com esta selva em que se transformou o mercado do futebol, ou seja, não necessariamente aquele que tiver os melhores jogadores, mas o que conseguir manter um grupo, independentemente do abre-fecha das janelas, mais comprometido com o objetivo de ganhar o título.
Este é o desafio dos diretores do Atlético, criar um ambiente antes de tudo confiável. Para a torcida, jogadores e até para eles próprios.
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