Marcel Costa

Marcel Ferreira da Costa, 45 anos, é advogado por vocação e atleticano por convicção. Freqüenta estádios, não só em Curitiba, quase sempre acompanhado de seu pai, outro fanático rubro-negro. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

O desarmamento atleticano

18/01/2007


Ontem, ao entrar na Kyocera Arena e tentar comprar fichas de cerveja para consumir durante a partida, fui informado pela amiga Rejane, proprietária do Prajá, de que o clube havia baixado uma norma meia hora antes do início do jogo proibindo o consumo de bebidas e alimentos nas cadeiras do estádio. Surpreso, pensei que fosse apenas uma brincadeira de mau gosto. Afinal, já fui em inúmeros jogos fora de Curitiba onde o consumo de bebida alcoólica era proibido pelo governo local, mas nunca vi algo como ontem na Arena, com proibições até à alimentação nas partes internas do estádio.

Quando tentei entrar no meu setor, percebi que a medida era real e que estávamos privados de beber nossa cerveja, bem como crianças não podiam tomar sorvete, comer pipoca ou beber um singelo refrigerante. Nisso, criou-se uma situação inusitada, com inúmeras pessoas assistindo ao jogo nos corredores, pelas telas da SKY. Talvez se colocassem algumas mesas e cadeiras, o pessoal estivesse mais à vontade lá fora do que nas suas próprias cadeiras internas. Ainda mais assistindo a uma das partidas mais chatas e fracas dos últimos tempos.

Nunca gostei de medidas radicais, afinal atacam-se as conseqüências e não as causas. A justificativa do clube para a proibição da entrada com bebidas e alimentos nas cadeiras era evitar que o clube perdesse novos mandos de campo por arremesso de objetos no gramado. Primeiro gostaria de lembrar que a última perda de mando foi devido ao incidente com os jogadores do Paraná, após a liberação da entrada de torcedores com bandeira em campo. O Atlético foi absolvido do último arremesso de copo. Mas enfim, independente disso, não é proibindo que o torcedor entre com bebidas e alimentos que vai evitar que o clube perca mando. A torcida precisa ser educada, está sendo educada, visto que as condutas e atitudes são bem diferentes e melhores das de 1999, por exemplo, quando a cada escanteio chovia objetos nos jogadores adversários.

Proibindo a entrada de bebidas e alimentos não impedirá que um torcedor mais exaltado arremesse seu celular, carteira, chave ou qualquer outro objeto no campo. E isso será muito mais grave e perigoso àquele que for atingido do que uma pizza ou pipoca. Tentando reduzir o arremesso de objetos, que existe por outros fatores, especialmente pela cultura brasileira da impunidade, com esta proibição, acaba-se com o direito individual da maioria dos torcedores que quer curtir o evento bebendo e se alimentando durante a partida.

Extrapolando esta medida podemos imaginar outros exemplos radicais que atacariam a conseqüência e não a causa. Ocorrem muitos assaltos a carros importados? Veta-se a venda desses carros. Muitos assaltos em ônibus? Vamos acabar com esse meio de transporte perigoso. Alguns bêbados cometem crimes? Está proibida a venda de bebida alcoólica. O futebol pode gerar violência e crime? Vamos acabar com os jogos. Não precisa ir muito longe, lembrando que no ano retrasado votamos em um plebiscito sobre o desarmamento, como se a proibição de venda de armas fosse acabar com o crime no país.

No intervalo a medida caiu e os torcedores voltaram a ter o “direito” de beber e se alimentar dentro da Kyocera Arena. Tal decisão foi acertada, pois assim ninguém terá seu mínimo direito individual sacrificado por culpa de meia dúzia de imbecis que ainda não aprenderam que seu copo deve ser atirado no lixo e não no gramado. Espero que esta medida não volte a ser tomada pelo clube, pois não precisamos de impedimentos radicais, justamente em um estádio de futebol, lazer de muitas pessoas.


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