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Ricardo Campelo
Ricardo de Oliveira Campelo, 45 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma famÃlia inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.
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CondomÃnio Fechado
18/01/2007
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O condomÃnio fechado é o sonho de consumo de quase todo pai de famÃlia. Morar em uma casa, com área para as crianças, espaços de lazer, sem abrir mão da segurança. Dentro do condomÃnio, a vizinhança é toda composta por famÃlias de classe média-alta. É um mundo à parte, isolado do mundo externo.
O Atlético vem, pouco a pouco, se fechando. Os muros já foram erguidos, com o afastamendo dos profissionais de imprensa. Do lado de fora, cada vez se sabe menos do que acontece dentro do Clube. E quanto aos portões, estão cada vez mais restritivos: exige-se cada vez mais status para se ter o privilégio de adentrar ao condomÃnio.
O lançamento das promoções de associação ao Clube não deixa mais dúvidas. A palavra elitização não é mais um chavão oposiciosta, é uma realidade concreta, é algo que vem se implementando dia após dia. O ingresso mais caro, baixou. E o ingresso mais barato, subiu. Alguma dúvida sobre qual público a diretoria atleticana quer privilegiar?
O anúncio do novo preço dos ingressos e dos pacotes agradou bastante os torcedores das classes mais altas, e desagradou a grande maioria dos torcedores com menor poder aquisitivo. O Clube praticamente assumiu a condição de Robbin Hood às avessas. Ao contrário dos demais clubes brasileiros, o Atlético não aposta na quantidade de sócios, mas sim no poder aquisitivo daqueles que podem se associar. O importante é que a maioria dos sócios seja composta pelas castas mais abastadas.
Os dirigentes atleticanos costumam alegar que a própria economia do paÃs é que exclui os torcedores mais pobres, aqueles que ganham 1 salário mÃnimo. Mas o Atlético está indo muito além disso. Está potencializando ao máximo esta "exclusão social". Estabelecer o ingresso avulso em R$ 30,00, no pior setor do estádio, é algo completamente fora dos padrões esportivos, ou mesmo de lazer, do paÃs. Um cidadão que quiser levar a esposa e um filho vai ter um custo total de, no mÃnimo, R$ 100,00: valor insano para se gastar em uma tarde. Se quiser o conforto da condição de sócio, o valor mensal será de R$ 180,00 só para entrar no estádio, fora os gastos com deslocamento e alimentação.
O pior é que as promoções que dão certo continuam sendo suprimidas pelo Clube. Em 2005, havia desconto para familiares, que acabou em 2006. Os planos para esposa e filhos, "Cap Teen" e "Cap Woman", sucesso em 2006, também não foram mantidos. Situação irônica enfrentará o pai que leva o filho menor a todos os jogos: apesar de receber seu ingresso em casa, terá que enfrentar as filas para comprar o do filho (meia-entrada) na bilheteria. E terá que torcer para não comprarem a cadeira ao seu lado e assim não ter que assistir o jogo separado do filho. Completamente sem nexo.
A cancela do condomÃnio está fechada. Quem não dispuser de muito capital para entrar na Kyocera Arena, dançou. Terá quase nenhum contato com o Clube. Não adianta ficar na ponta dos pés, o muro é alto. As notÃcias na imprensa já são poucas, os jogos do Paranaense não serão transmitidos na TV. Resta economizar bastante para poder ir a um ou outro jogo, sentindo a dor da facada no peito em desembolsar R$ 30,00 por um ingresso de futebol - isto para assistir atrás do gol. Este é o plano a que foi relegado o torcedor comum do Atlético.
Quando o primeiro ato da elitização foi tomado, em 2003, me revoltei. Hoje, não chego a reagir desta forma. O amor não correspondido desgasta, e a gente acaba se conformando com esta condição que o Clube quer nos atribuir. No fundo, se o Atlético conquistar tÃtulos importantes com a Arena tomada pela burguesia, eu ficarei feliz. Em algum lugar, estarei comemorando. Só acho uma pena pois acredito que os torcedores tradicionais, que sempre apoiaram o time, poderiam continuar fazendo parte da história do nosso Atlético. Com venda de um jogadorzinho estilo FabrÃcio o Clube compensaria esse aumento de renda que eventualmente terá com o aumento dos ingressos, sem abrir mão de torcedores.
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