Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Dilema

24/12/2006


Outro dia, durante o programa de rádio de um especialista em carreiras profissionais, apresentou-se para a análise a consulta de uma ouvinte, que relatou o seu problema e pediu a opinião do consultor. Tratava-se de um dilema profissional. A moça, com 27 anos, trabalhando em uma sólida empresa e com um salário bastante interessante, indagava se deveria largar o emprego para cursar um MBA numa conceituada universidade do exterior. A profissional sabia que ao voltar, teria que disputar novamente as vagas para colocação, porém acreditava que com um título de pós-graduação, poderia ter mais chances de chegar ao topo da carreira, desde é claro, que conseguisse um emprego tão bom quanto o que ela tinha ao sair do País.

Não são raros os jovens que pensam em abdicar de uma situação confortável no presente para sair em busca de ferramentas para realizar os seus sonhos. São pessoas que não se acomodam e sabem que podem alcançar postos de destaque na sua área de atuação. Os sacrifícios são sempre grandes e dolorosos e o pior é que nem todos se dão bem na empreitada, acabando por perder tudo o que haviam conquistado.

A julgar pelas declarações recentes de alguns diretores, o Atlético de hoje parece estar em um dilema parecido. Aparentemente eles acham necessário optar entre continuar investindo em infra-estrutura de ponta e patrimônio, ou concentrar esforços no time para ganhar títulos no curto prazo.

Na minha opinião, o dilema não se aplica nesse caso. Guardado um certo limite de razoabilidade, não existe uma relação direta entre custo de um plantel e o seu desempenho nas competições das quais participa. O exemplo da parceria Corinthians – MSI nos mostra que nem sempre concentrar os investimentos na montagem de um time estrelar significa sucesso na prática. Se o Corinthians com a sua constelação de craques ganhou um título nacional, por outro lado não conseguiu se firmar internacionalmente e na ultima temporada passou boa parte do tempo lutando para não cair. Só salvou-se da derrocada quando o comando, usando de mão firme, afastou jogadores de alta qualidade técnica individual, para privilegiar o conceito de grupo.

Antes de gastar muito é preciso escolher bem, tanto na hora de contratar, como internamente, na hora de montar o elenco de jogadores principais. É preciso que se crie um grupo vitorioso já desde o início da temporada. Contar com elementos comprometidos com os objetivos é fundamental para alcançá-los.

O Atlético de 2007 poderá ser vencedor no futebol e no patrimônio. Poderá crescer e se firmar como time vencedor, basta que a diretoria e comissão técnica tenham a humildade para enxergar os equívocos de 2006 e a competência para corrigi-los a tempo, deixando de lado a teimosia. Além disso e antes de tudo, é importante que se esqueça de uma vez por todas esta bobagem de jogar a culpa dos fracassos esportivos para cima da necessidade de investir em estrutura.

Na minha ultima coluna do ano, desejo aos leitores um ano novo de muito sucesso. Dentro e fora de campo.


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