Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

Um sonho realizado

23/12/2006


Pouca gente esperava. O Atlético entrou no Campeonato Brasileiro de 2001 como quem não quer nada. Tomou corpo no meio da competição e passou a figurar entre “as cabeças”. Até que num jogo histórico na Baixada, o Furacão bateu o Bahia com um espetacular 6 x 3, com direito a um gol antológico do incendiário Kleber e assumiu a liderança do certame, enchendo de esperança os corações atleticanos. Apesar de alguns tropeços inesperados, o time conseguiu chegar às últimas rodadas da primeira fase como um dos favoritos. Na penúltima rodada, contra o Guarani, o juiz Wilson de Souza Mendonça quase estragou tudo. Mas na rodada final, contra o Vitória, em Salvador, o inigualável Gabiru deitou e rolou, garantindo ao Atlético a importantíssima segunda colocação ao final da primeira fase.

Vieram as eliminatórias, e o Atlético tinha a vantagem de jogar em casa o confronto único da quarta-de-final e da semi-final. E naqueles 2 x 1 contra o São Paulo, emblemático, com gols de Kleber e Alex Mineiro, o torcedor começava a perceber que o sonho estava na iminência de virar realidade. A vibração que tomava conta da Arena carregava a consciência de que o Atlético estava caminhando para o topo do Brasil. Dias depois, o Fluminense foi a vítima do Caldeirão, para delírio da torcida atleticana que já derramava lágrimas com a emoção de chegar a uma final de Campeonato Brasileiro.

O maior degrau da conquista foi subido na primeira partida da final, na Baixada. Uma tarde de sol, e calor, muito calor humano nas arquibancadas. Um jogo tenso, com direito a viradas, mas com um final feliz para os milhares de atleticanos em todo o Brasil. A estrela de Alex Mineiro brilhava com muita intensidade, e a estrela dourada estava cada vez mais perto da camisa rubro-negra.

Somente no dia 23 de dezembro de 2001, é que o sonho foi realizado. Acordei quando a comitiva de ônibus da torcida parou em um posto de Itapecerica da Serra. Da beira da estrada, uma imagem incrível. Para trás ou para frente, viam-se ônibus com torcedores atleticanos até onde a vista alcançasse. As horas passaram devagar, até que chegamos ao estádio Anacleto Campanella, 4 horas antes do jogo começar. Caía uma chuva fina que apenas aumentou a angústia para a chegada do grande momento.

Apesar da vantagem no placar construído no primeiro jogo, o nervosismo era muito grande. Cada ataque do São Caetano era um sofrimento insuportável. Os minutos teimavam em não passar, enquanto a garoa continuava a castigar a valente torcida que, indiferente, não parava de cantar. Quem assistiu pela TV só escutou gritos de guerra rubro-negros. Então, Alex Mineiro resolveu colocar um fim na expectativa, colocando mais uma bola para dentro das redes e explodindo o grito dos atleticanos nos quatro cantos do mundo. Não tinha mais jeito. Aquele troféu era nosso. O Brasil era nosso.

O apito final de Carlos Eugênio Simon decretou o começo da festa. Abraços, lágrimas, gritos... as arquibancadas do Anacleto Campanela abrigavam uma mistura deliciosa de emoções. Algo para ficar na memória, e não esquecer jamais. Era hora de agradecer a Deus pela realização do sonho.

No meu caso, a gratidão era ainda maior. Quando o táxi que me tirou do estádio chegou ao aeroporto, a espera pela decolagem foi bem diferente do que eu esperava. Logo depois de fazer o check-in, dei de cara com uma festa em um dos bares do aeroporto de Congonhas. Eu mal podia acreditar, mas toda a delegação atleticana exibia o troféu de campeão e comemorava o feito, em uma festa aberta a quem quisesse. Antes de mais nada, corri até uma lojinha do aeroporto, passei um cheque pré-datado e comprei uma câmera fotográfica com um filme de 36 poses. Fotos inesquecíveis, momentos marcantes na vida de um atleticano.

As fotos com a taça são exibidas, com orgulho, até hoje. Porém, mais importante do que o momento em si, foi o que ele representou na vida do Clube. Desde aquele dia, há cinco anos atrás, o Atlético ganhou respeito no mundo do futebol. Deixou de ser um time “encardido” para figurar entre os grandes clubes da América Latina. O torcedor bordou a estrela, e guardou espaço na camisa para outras, que certamente virão.


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