|
|
Rogério Andrade
Rogério Andrade, 52 anos, é administrador. Atleticano de "berço", considera a inauguração da Arena da Baixada como o momento mais marcante do Atlético, ao ver um sonho acalentado por tantos anos tornar-se realidade.
|
|
Um Natal inesquecível
22/12/2006
|
|
|
Essa penúltima semana do ano foi de faxina geral lá em casa. E olha que a casa é nova, mas não tem jeito! É coisa que não se usa mais na gaveta, aqueles bilhetes de cinema que já fizeram aniversário, revistas que já foram lidas e relidas, comprovantes de pagamento que já não servem para mais nada, cupons de supermercado, sem contar a limpeza dos armários, quando fazemos a “limpa” de fim de ano para doar às instituições carentes, o que normalmente acontece lá em casa todos os anos. No depósito da garagem então, melhor nem comentar, tem coisa que até Deus duvida. Achei até um saco de prego com apenas um preguinho, e deve estar lá desde dezembro de 2005. Coisas que vão ficando, ficando e chega o dia em que precisam ser eliminadas.
Entre os locais da casa, existe um que é intocável. Ou melhor, exclusivo para atleticanos. Lá todos sabem que existem até páginas amarelas, mas são relíquias, e serão documentos importantes até que eu não tenha mais nada a fazer neste mundo. As coisas do Atlético permanecem intactas. Um paninho aqui, outro ali, uma tirada de pó, e pronto! O pôster volta para o lugar, as faixas de campeão passam por uma “geral”, e fica tudo certo. Até o saquinho de pedras da velha Baixada continua lá, e olha que nem o saquinho foi trocado! Quase não dá pra enxergar as pedrinhas, mas o saco ta lá, velho, mas firme.
E no meio da limpeza, achei um pequeno álbum com as fotos do Natal de 1982. Meu Deus, quanto tempo! Como foi bom ser criança naquele tempo. Eu havia completado 11 anos no mês de dezembro de 82, e este era o tempo em que o Natal era comemorado em família, com a “parentada” toda reunida. Um saco, mas tudo bem, tradição é tradição. Ou melhor, era tradição. Hoje em dia tudo é diferente, ainda existem as famílias mais unidas, mas o tempo tratou de modificar as confraternizações natalinas em muitas famílias. Algumas porque foram quebradas pela ausência de um líder maior, de um avô, avó, pai ou mãe. Outras porque apenas se deixaram levar pelos tempos modernos, em que cada família cuida apenas do seu espaço, fazendo o seu Natal, sem se preocupar muito com as festas dos outros.
Mas tudo bem, era Natal de 1982, a família toda reunida. Primos, irmãos, sobrinhos, avós, pais, e até aqueles tios que a gente só vê em casamento e velório. Uma muvuca. Pois aquele ano foi diferente, muito mais legal. Eu mesmo tratei de enfeitar a casa e caprichar na decoração. Foi um Natal verdadeiramente rubro-negro, e só o Papai Noel ainda era tradicional, vermelho e branco.
Foi um ano lindo! Eu tinha realizado um dos meus sonhos. Nunca tinha visto o Atlético, o meu time, ser campeão. Eu já tinha aprendido a torcer, já tinha aprendido a gritar nos estádios, xingar o juiz, já tinha aprendido até a fazer xixi no murinho do Couto Pereira. Já tinha aprendido muitas outras coisas, entre elas, tinha aprendido a sofrer. Sofri muito quando perdi, na frente dos meus olhos, o título paranaense de 1978. Mas nunca tinha sentido o gostinho de finalmente vestir aquela tão cobiçada “faixa de campeão.” Ah, que sonho! Sonho que foi realizado em 1982, depois de um baita jejum. E com direito a baile, golaço do Nivaldo (que jogou até sentado), show a parte da dupla Washington e Assis, sem falar na excelência dos arcos, o inesquecível goleiro Roberto Costa.
Tudo isso fez o meu Natal de 1982 ser brilhante, maravilhoso. Aos coxas chatos que passaram a noite natalina lá em casa, só restava o argumento de que ganhamos no estádio deles, mas de resto, era Furacão pra tudo quanto é lado. Nas paredes, do piso ao teto, o refrão era um só: Atlético campeão. Nossa, que felicidade! E o som das canções de Natal foram, logicamente, substituídos pelo hino do Atlético Paranaense. Do início daquela noite, passando pela entrega de presentes até a ceia de Natal, foi tudo praticamente perfeito.
As fotos que estão guardadas lá em casa, do Natal de 1982, me fizeram voltar no tempo e recordar grandes dias de alegria ao lado do Atlético. Depois daquele ano, aprendi finalmente como é que se comemora um título. Guardo cada minuto daquele ano no meu coração. Cada apito, cada defesa, cada drible, cada encanto. Ainda sinto o toque da bateria nos meus ouvidos, ainda ouço o barulho ensurdecedor da imensa nação atleticana. Ainda guardo isso na memória, e jamais vou me esquecer do Natal do ano de 1982, um dos melhores da minha vida.
Que Deus abençoe o nosso Natal. A todos os meus amigos atleticanos, a todo o pessoal do site Furacao.com, a todos os nossos leitores e aos atleticanos de todo o mundo, um Natal cheio de reflexões, com muita paz, alegria, esperança, saúde e conquistas.
|
Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.