Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

O investimento em time

21/12/2006


Em fevereiro de 2006, Adriano Gabiru acertou sua contratação pelo Internacional. O Atlético até queria contar com ele no elenco, para ser a grande estrela do time. Mas ele estava fora da "política salarial" do Clube. Assim, foi para o Internacional, para ganhar mais e ser um mero jogador para compor o elenco. Acabou decidindo um título mundial para o time gaúcho, construído com outros grandes jogadores que foram contratados ou mantidos pelo colorado.

Ninguém é louco de negar que todo o investimento feito pelo Atlético em infra-estrutura foi não só importante, mas sim fundamental para o grande crescimento que o Clube mostrou na última década. Também seria burrice negar que este investimento em estádio, centro de treinamentos e tudo mais acaba sendo um investimento em futebol, na medida em que proporciona melhores condições para a sua realização.

Contudo, o que nós, os suplicantes por "investimento em futebol" anotamos, é que o Atlético, se quiser se firmar ou voltar a figurar entre os grandes, precisa investir um pouco mais no seu time. Em termos objetivos: precisa melhorar a qualidade de seus jogadores. Os dirigentes atleticanos vivem batendo na tecla de que futebol, hoje em dia, é muito caro. Mas o fato é que o Atlético desembolsa, com seu time, muito menos do que os grandes clubes brasileiros.

A comparação não precisa nem ser com o Inter, campeão mundial. É fato que, além de ter mais torcida que o Atlético, o colorado também dispõe de mais "dinheiro da TV" que o Furacão. Pretendo fazer uma comparação com o próprio Atlético, o melhor de todos os tempos, aquele que foi campeão brasileiro em 2001. Se analisarmos os jogadores que compuseram aquele elenco, encontraremos, entre as principais estrelas, Kléber, Kleberson e Gustavo que se destacavam desde 1999 e foram mantidos no Clube. Flávio, desde 1998. Alex Mineiro, desde 2000. Além disso, tivemos Souza, jogador consagrado que o Atético bancou. Além do Gabiru, que voltou depois de não dar certo na França.

Hoje em dia, o Atlético passa longe de contratar jogadores reconhecidamente qualificados, como Souza. Tudo bem, "medalhões" são muito caros e realmente é difícil avaliar se valeria a pena comprometer tanto dinheiro em um investimento destes. Mas, além disso, o fato é que o Atlético não consegue mais segurar os jogadores que se destacam.

Vejamos. Após a boa campanha no Brasileiro de 2004, Jádson e Fernandinho foram negociados. Não chegaram nem a fazer história no Clube e já partiram para o futebol ucraniano. O mesmo aconteceu com os melhores jogadores do time em 2005: Marcão, Lima e Paulo André. Nenhum deles faz parte do Atlético de 2006, pois extrapolaram nossos limites salariais.

Aí é que se situa a nossa preocupação com o futuro do Atlético. Tudo bem, estrutura nós já temos e estamos até ampliando. Mas, se não contratamos jogadores de qualidade reconhecida, e se não mantemos as apostas que dão certo, nosso time vai viver de quê? Vamos ficar sempre esperando que algumas apostas simultaneamente dêem certo, e tenhamos um time competitivo? Ou esperar que um conjunto de fatores conspire a nosso favor e nos leve à final de uma Libertadores, como aconteceu em 2005?

Cada vez mais, fica a nítida mensagem de que, apesar de sua estrutura invejável, se o Atlético não investir em seu time, vai ficar pra trás. Se não mudar sua visão da folha salarial, seja para contratar jogadores de qualidade, seja para segurar aqui aqueles que se destacam, não conseguirá se firmar entre os grandes. Se tivéssemos a Baixada completa teríamos ganho do São Paulo? Acredito que sim, e que o jogo no Morumbi seria diferente. Mas vejamos o Inter. Ganhou dentro da casa do São Paulo. Porque o Inter tinha time.

O que eu espero é que, uma vez consolidada a sua estrutura, o Atlético tenha condições de melhorar sua política salarial e nos oferecer jogadores melhores. Mas o tempo está passando e, infelizmente, não temos indícios de que isso vai acontecer.

Estrutura é fundamental. Mas não exclui investimentos no time, sem os quais não se conquista títulos grandiosos. A não ser em "abortos" da natureza, como na Libertadores do ano retrasado, que teve como campeão o Once Caldas. O que eu entendo é que um time com a grandeza Atlético não deve e nem precisa ficar dependendo de casualidades.

Retorno

A diretoria reclama que a torcida não participa, comprando pacotes. A torcida passa a bola para os dirigentes, dizendo que o pacote é caro e os times montados são fracos.

Bom, sempre defendi a tese de que, se um produto não vende bem, a culpa não pode ser do consumidor. A estratégia de venda é que está equivocada. Já critiquei muito aqui a forma como o Atlético vende os pacotes, que ficaram caros e com vantagens insuficientes para o torcedor - o exemplo de 2006 é emblemático para mostrar que a compensação financeira foi irrisória.

A própria postura da diretoria desencoraja um pouco a colaboração da torcida. Como no caso das perdas de mando. Um idiota jogou algo no gramado. A culpa não é minha, certo? Bom, o time perde o mando, eu paguei o ingresso no pacote. O estádio não abre, e eu fico com o prejuízo!

No mais, reitero o pensamento do amigo Juarez Vilella Filho, quando observa que o preço tem que variar em função do espetáculo, e não do estádio. No mesmo Teatro Guaíra, um show do B.B. King tem preço diferete do show do Nenhum de Nós. Tudo bem pagar pelo conforto, mas o preço tá ficando impalatável para o torcedor que não é de classe alta.

Para 2007, aliás, já se vai delineando também uma estratégia estranha. O Clube já avisou que usará o time reserva no Paranaense, desempolgando o torcedor de ir a todos os jogos. Como é que pretendem ter sucesso na venda de pacotes, se estes jogos do estadual forem incluídos?

Para finalizar, o principal fator para a falta de colaboração da torcida: o retorno não tem sido observado nas equipes que são montadas. A diretoria reclama que foram vendidos somente 2 mil pacotes. Digamos que tivessem vendido o dobro, o que isso acrescentaria em termos financeiros? Talvez R$ 1 milhão no ano? Pois a Kyocera tem injetado R$ 4 milhões por ano, e o fato é que o time não melhorou. Enquanto o torcedor investir e o time não melhorar, via ficar difícil ter esta consciência de se sacrificar financeiramente para comprar os pacotes.


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.