Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

O investimento "em futebol"

19/12/2006


Em certo ponto da história, o Atlético Paranaense era um clube que chegou à míngua de recursos e a pontos rasos de orgulho no peito de cada indivíduo de sua sofrida nação. Grosso modo, pode-se dizer que chegamos à beira da falência. Sobrevivíamos de amor e abnegação. Mas dentro daquilo que um clube de futebol teria que ter, estádio, lugar para treinar, material esportivo de qualidade, e, principalmente, perspectiva de crescimento, não tínhamos nada. Até que em meados de 1995, uma revolução se iniciou, apoiada no que tínhamos: amor e abnegação.

E, a partir de quase nada fomos construindo este clube de futebol que hoje tem pujança invejável, uma saúde que poucos têm no país do esporte criado por bretões. Para superar nossas limitações, tanto financeiras e também de tradição de abrangência nacional, tivemos que fazer tudo do zero. A demolição da Baixada foi símbolo disso, seus escombros representam um clube que teve a coragem de deixar para trás uma parte de sua história, para iniciar a construção de outra. E não é fácil construir uma nova história no futebol, principalmente no brasileiro, em que o atraso é arraigado e sempre se serviu desse esporte para perpetuar a senzala em que vivem milhões de brasileiros.

Do quase nada, o Atlético foi fazendo, fazendo, levantando cada viga, assentando cada tijolo que faltava. O Atlético é diferente dos outros clubes que já eram "grandes" nacionalmente. A gente só conseguiu o que tem com mobilização e abnegação de alguns. Investir da maneira que o Atlético investe, em estrutura no CT do Caju, que acabou de ficar pronto; na construção de um estádio fora dos padrões tupiniquins; em escolhinhas de futebol por todo país, para buscar receitas extras; em imagem de marca, o chamado "marketing", para que destacar o que vem sendo feito e agregar novos torcedores; busca de patrocinadores; acordo de "naming rights"; tudo isso é investir no futebol. Isso é foco no futebol. Foi assim que chagamos até aqui e abandonamos um lastro de fracasso que nos acompanhou durante alguns anos mais sombrios.

Essa coisa toda, esta "banalidade" chamada estrutura, nos fez grandes. Vamos ser sinceros com nós mesmos, o Atlético sempre foi grande nos nossos corações, mas esteve longe de ser um dos chamados "clubes grandes" do futebol do país. Temos um delay, um atraso em ralação a outros clubes que fizeram história antes da gente, estamos tirando este atraso. Tirando um atraso em ralação a times com mais mídia, mais recursos, mais torcida. Na última pesquisa Datafolha sobre as torcidas do país, o Atlético é um "traço", tanto atualmente como nos dados regressivos mostrados na pesquisa. O pouco mais de um milhão da torcedores do Atlético, somem no mar quase 190 milhões de pessoas. E mesmo assim, hoje temos disparado a maior torcida do estado, praticamente dobramos nossa abrangência nos últimos onze anos e obtivemos conquistas e títulos importantes. Graças ao investimento e foco no futebol, mas este visto dentro das nossas limitações e particularidades, usando estrutura e marketing como ferramentas importantes.

O Atlético, se não fosse o pedaço que faltava em nossa estrutura, poderia ter vencido a Libertadores da América de 2005. Isso mostra que a estrutura é, sim, importante para nós. A duras penas botamos uns 20 mil no Beira-rio no primeiro jogo daquela final. Isso mostra que o feijão que estamos comendo é necessário e fundamental. Concorremos com times que pagam 100 mil, até 500 mil em salário de jogadores. Fazer o mesmo é investir em futebol? Para nós, não. Não podemos em hipótese alguma ameaçar a nossa saúde financeira; alguns clubes quebram, mas o nome os mantém, o que não é o nosso caso. Mas podemos fazer times melhores que o de 2006? Com certeza. Podemos fazer um planejamento melhor que o de 2006? Perfeitamente. Podemos contratar alguns jogadores que venham para resolver, sem que sejam estrelas consagradas? Claro que sim. Estudar um aumento no teto salarial dos atletas, dentro dos limites possíveis? Sim.

O que os atleticanos não podem é dizer que tudo o que foi feito e que se faz em relação a estrutura e marketing é inútil. Dizer que não é preciso ter conforto nos estádio, ingressos setorizados, manutenção impecável. Me diga se alguém viu alguma parede sem pintura, um azulejo faltando no banheiro, uma cadeira desbotada ou quebrada por falta de cuidado do clube? Isso não é importante? Se faltar, vão reclamar. E isso custa dinheiro, um baita dinheiro mensalmente. Quem tem casa própria sabe quanto custa manter uma casa. A nossa casa, nosso lar sagrado está cada vez melhor, mais lindo. E isso não tem nada a ver com o desempenho abaixo do esperado no ano de 2006, um ano turbulento, cheio de problemas judiciais, de renovação de contratos, fugas de treinadores, Copa do Mundo, Eleições, ratos, massas, punições por que idiotas não respeitam nossa casa, punições porque imbecis agridem jogadores de time rival, etc.

Mas se alguns desejam um time caro, ajudem. Tenho certeza que com 15 mil pacotes vendidos, poderíamos e teríamos direito de pedir à diretoria mais investimento em time. Em vez de ficar esperando as coisas virem de cima para baixo, ajudar o clube. Agora, pouco mais de dois mil pacotes vendidos é uma vergonha, num estádio magnífico como o nosso. Não comparem com o Inter, porque o Beira-rio é um cortiço se comparado à Kyocera Arena. Lá se vendeu 36 mil pacotes com preços dentro da realidade do estádio (não eram tão baixos), que é ruim; dentro do tamanho da torcida do clube, que é bem maior que a nossa; e dentro dos padrões de participação das coisas da sua terra, que caracteriza o povo gaúcho. E a diretoria colorada estuda aumentos no preço do pacote para a próxima temporada. E nós, aqui, com uma região metropolitana com mais de 2 milhões de habitantes, com ampla maioria de atleticanos, vendemos vergonhosos 2 mil e poucos pacotes. O preço não justifica um número pífio desses. O preço representa o quanto vale o estádio.

Tenho certeza que 2007 será um grande ano para nós, atleticanos. Haverá, sem dúvida, um melhor investimento em time, porque não podemos ter um ano em que fomos brilhantes por apenas um mês da primavera. Os erros não podem ser repetidos e acredito que não serão. A permanência de Vadão foi uma das coisas mais lúcidas que poderiam ser feitas para o início da preparação para a próxima temporada. Confio que a diretoria faça um time forte, o Atlético não costuma ter dois anos ruins seguidos. Vamos seguir nesta toada simples e firme, que nos colocará no rol dos gigantes do futebol, mas do nosso jeito, fazendo como temos que fazer, sem loucuras, mas sem excesso de modéstia. O investimento "em futebol" continuará, talvez mais adaptado a nova realidade do Atlético, que é a de um time respeitado nacionalmente. Respeito não se impõe, se conquista. E ano que vem será época de conquistar ainda mais.

Desejo de coração a todos os leitores da minha coluna, aos leitores do furacao.com e a todos os atleticanos, um feliz 2007, cheio de realizacões e conquistas, com muita paz e alegrias. Tanto os que discordam de minhas opiniões e os que concordam, merecem meu respeito e fizeram me engrandecer como pessoa neste ano que chega ao ocaso. Agradeço a todos que acompanharam minhas humildes palavras neste ano. Muito obrigado a todos e até 2007.


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