Juarez Villela Filho

Juarez Lorena Villela Filho, 46 anos, é advogado, funcionário público estadual, dirigente de rugby e arruma tempo para acompanhar jogos do Atlético, isso desde 1987. Conhece 49 estádios Brasil afora onde foi ver de perto o Furacão. Sócio desde os tempos do Atlético Total em 1998 e na nova modalidade Sócio Furacão desde 2007.

 

 

Chances

12/12/2006


Reza a lenda, que Tom e Vinicius, lá pelas nove da manhã “ainda” bebiam alguma coisinha no então Bar Botineiro na esquina da Prudente de Morais com a hoje Vinicius de Moraes, uma quadra depois da Visconde de Pirajá e viram a bela loira, que vinha e que passa, com seu doce balanço a caminho do mar. Vinicius, com mais uma de suas crises de paixonite aguda, inspirou-se e criou um ícone da música brasileira, a “Garota de Ipanema”. Foi uma chance que passou a sua frente, instigou-o e o fez produzir arte.

No recém lançado livro de Amir Klink, o maior navegador brasileiro, há uma passagem bastante interessante. Já ancorado na Antártida, ouviu grandes estalos, parecendo que pastéis estavam sendo fritos. Notou que era o barulho de pequenos blocos de gelo entrando em contato com a água salgada do oceano. A cena era linda, formando um prisma de cores que ele nunca vira antes na vida. Ficou apreciando e com certa preguiça de buscar a máquina fotográfica pensou: “calma, tenho muito tempo pra isso ainda”. Mal sabia que nos outros 367 dias que passou por lá, o fenômeno não se repetiu.

Algumas oportunidades são únicas na vida.

Por vezes ainda tenho o pesadelo de Erechim bem vivo na memória. Foi nossa grande chance de continuarmos lá entre os grandes. Sei lá quanto tempo demoraremos para ter uma nova chance como aquela. Final da Libertadores ano passado. O alegre e saltitante time do Morumbi era melhor, sem dúvidas. Mas nos faltou força, maior participação de entes políticos, maior pressão da imprensa para fazermos a final em Curitiba. Os resultados poderiam ter sido exatamente iguais, mas não poderíamos ter perdido a chance de jogar a final em casa.

Dagoberto é um que teve todas as chances de se dar bem aqui. Jovem, com boa aparência, rápido, habilidoso, foi o único de sua geração a conseguir rivalizar com o craque Robinho. A diferença é que este foi campeão, cresceu ao invés de pipocar nos momentos decisivos e soube exatamente a hora de ir embora, respeitando a torcida santista e o clube que lhe deu formação, comida, estrutura física, psicológica e idolatria. Primeiro venceu, depois exigiu algo. E ainda encheu os cofres do clube sendo, mesmo que indiretamente, uma forma de recompensar a agradecer tudo que fizeram por ele.

Temos um exemplo bem claro aqui mesmo, com o pentacampeão Kléberson, precisa mais?

Outra chance que não poderíamos desperdiçar era a de termos realmente investido em contratações decentes em 2006, o proclamado “ano do futebol”. A diferença entre o São Paulo campeão e os demais foi assustadora. Talvez só o Internacional, já voltado para a disputa do Mundial de Clubes é que pudesse lhe fazer frente. E vemos times limitados como o Paraná Clube e Grêmio, classificados para a Libertadores, enquanto flertamos com o rebaixamento até as rodadas derradeiras da competição.

Um ano foi jogado fora. O Atlético não pode se dar ao luxo de investir tão pouco em 2007, correndo o risco de ficar como uma página virada na história.

Na vida, no futebol e no amor, por vezes o destino nos dá outra chance. Por vezes não!

ARREMATE

” Vai minha tristeza, e diz a ela que sem ela não pode ser.”
Chega de Saudade - Vinicius de Moraes & Tom Jobim, imortalizada na voz de João Gilberto


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