Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Pangaré Eterno

04/12/2006



As pessoas ficam imortalizadas por aquilo que fizeram. Seja entre sua família, entre seus amigos e conhecidos, ou, se públicas, entre um grande número de pessoas. Sempre deixamos alguma história atrás da gente, com coisas que marcam nossa atuação em diversos setores da vida. Giovani Gionédis, presidente do Coritiba "Foot Ball Club", ficará marcado por varrer este clube da vida dos atleticanos, ainda que os atleticanos não saibam bem como é viver sem o time verde. Pois, teremos que aprender.

Finda o ano e, esta coluna, tão dedicada às coisas do Atlético, abre espaço para uma justa homenagem ao pernóstico mandatário turmalino. O homem que, em poucos anos de galope, fez os atleticanos começarem a enxergar que existe vida além da rivalidade com a patota lá do alto. Depois de uma das maiores apresentações de bola que eu já vi com esses olhos que a terra há de comer, a tungada que demos no Nacional, do Uruguai, a torcida cantava "Another Brick in the Wall", do Pink Floyd, na conhecida versão remix atleticano. Soou meio estranho a mim, aquela música, naquele momento. Veio lá do âmago do meu cerebelo, a lembrança: "ah, é... o Coritiba existe". Pela primeira vez, vi protestos de alguns torcedores ao meu lado, e não eram poucos, com o seguinte teor: "nada a ver essa música", "pra que xingar os coxas?", e coisas do tipo.

O Coritiba "Foot ball Club" está hoje mais do que dois ou três bairros de distância do Atlético. Sumiu de vista como um pangaré sem pique, lá atrás no páreo do futebol do estado. O Atlético diversifica seus rivais, e o Paranazinho, recém classificado à "pré-libertadores", pensa em sair da puberdade, para ocupar a lacuna aberta de segundo time do estado. Enquanto isso, Gegê agarra-se à sua poltrona, bota super bonder no assento, amarra-se com fio de nylon como caneta de banco à mesa da presidência do time verde. Chama um, chama outro e poucos parecem dispostos à sentar ao lado do sujeito para trazer aquele clube de volta ao segundo posto entre os times paranaenses. À medida que o tempo for passando, a grana diminuindo, vai ficando mais difícil a empreitada. O time de 2007 será ainda mais modesto que o de 2006. Pior do que cair, é não subir. O "respeito" pela camisa do Coritiba na série B, será bem menor na próxima temporada, e assim por diante. Este é o círculo vicioso que prende clubes de tradição ao regato lamacento da segundona.

Uma prova que o Coritiba tem certa importância em nossas vidas é este colunista atleticano da gema, clara e casca dedicar um texto ao clube verde e ao seu presidente. É a quantidade de piadas, anedotas e afins que recebo por e-mail sobre a vida coxa. Mas uma coisa que marca este ano é o fim do comparativo consolador, ainda que a gente não consiga parar de falar dos coxas (até porque é muito divertido). Não nos consola mais terminar o ano à frente deles. Não é suficiente estar na Série A enquanto eles vivem a B. Não é mais prova de competência superá-los em estádio, CT, torcida, títulos, campanhas. Não nos basta e é uma bênção que isso esteja acontecendo. Durante muitos anos, o Coritiba viveu na base do "eu tenho, você não tem". "Eu tenho estádio, você não. "Eu tenho título Brasileiro, você não". Preso ao bem-estar proporcionado pela superioridade local, foi vendo o Atlético crescer e revolucionar, incrédulos que poderiam perder o posto de bam-bam-bans do Paraná. A arrogância alimentou o ego, mas não sustentou a realidade.

Está aí algo que não podemos incorrer, cair na armadilha de nos consolar com a lama verde. Chega de "Atirei o Pau nos Coxas". Perdeu a graça. O Giovani fez de tudo para que a gente parasse de cantar essa musiquinha. Cantá-la, parece uma espécie de homenagem, é dizer para os verdes que são importantes e existem. Fica na memória, agora. Assim como os momentos em que a gente sentia que era o máximo ganhar dos coxas. Aqueles Atletibas vencidos eram uma glória que saboreávamos como um manjar de fino paladar. Isto é passado. Distante. Momentos bacanas, em que a gente invadia o Major Erasmo Carlos, dava um show de animação, talco e papel higiênico e às vezes descíamos a ladeira com o coração inchado de felicidade por uma eventual vitória. Isso acabou, é uma página virada e o sentimento de superioridade dos dias atuais não nos satisfaz como satisfazia os verdes. Nós sabemos onde podemos chegar.

Gegê ficará eternizado como o "Pangaré", está assim decretado. Enquanto Mario Celso Petraglia ficou marcado, ainda que com um certo sarcasmo, como o "Imperador", o outro ficou marcado com tal alcunha eqüina, desprovida de glamour. Realmente, nos dois casos, as obras falam por si. Mesmo que alguns vejam algo de pejorativo em "Imperador", este é sempre um adjetivo valoroso. Mas um pangaré e sempre um pangaré. Às vezes acha que é puro sangue, tenta galopar como qual, mas falta-lhe o elã. E este pangaré nos proporcionou um momento histórico muito importante: fazer nossa vida descolados do Coritiba. O consolo não é mais suficiente, nossas aspirações são grandes, enquanto o outro vive apenas o dia-a-dia, tentando sobreviver, nós temos um projeto de vida.

Valeu, Giovani! Continue trabalhando assim. Ficamos livres daquela rivalidade autofágica. Não é daquelas rivalidades em que os dois ficam brigando em cima. Se um tem que ficar por baixo, então que sejam eles. Porque nós temos que trabalhar para ser grandes, não maiores que o do lado.


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