Ricardo Campelo

Ricardo de Oliveira Campelo, 44 anos, é advogado e atleticano desde o parto. Tem uma família inteira apaixonada pelo Atlético. Considera o dia 23/12/2001 o mais feliz de sua vida. Foi colunista da Furacao.com entre 2001 e 2011.

 

 

O que o Atlético quer?

30/11/2006


Campeonato Paranaense: eliminados nas quartas-de-final pela ADAP.
Copa do Brasil: eliminados nas oitavas-de-final pelo Volta Redonda.
Copa Sulamericana: eliminados pelo Pachuca com derrota na Baixada e goleada no México.
Campeonato Brasileiro: mais perto dos rebaixados do que dos que disputam uma vaga na Libertadores.

Temos como o único fato de destaque de 2006 o anúncio de que a Baixada poderá ser concluída a partir do ano que vem (ainda depende de financiamentos). Justo após um ano em que percebemos que, quando o time não ajuda, o estádio pouco influencia. Dentro da Baixada, fomos eliminados pela ADAP, pelo Volta Redonda, pelo Pachuca, levamos de 5 do Botafogo... será que o que faltou pra vencermos estes jogos foram arquibancadas no lugar do muro?

O problema do CAP é existencial. É de identidade, saber o que pretende. Decidir se um dia investirá no futebol. Não há o que justifique, neste ano de 2006, a falta de ímpeto competitivo, a fragilidade técnica do elenco que ostentou a camisa atleticana.

O Atlético parece que sempre aposta em jogadores “meia-boca” esperando que, quem sabe, dê certo e, ajeitando aqui e ali, sair um time competitivo - como aconteceu claramente em 2005. O problema é que a chance de dar certo é a mesma de dar bem errado, e mais dia menos dia o rebaixamento poderá ser uma realidade. Já flertamos com ele em 2003, e agora em 2006. Acabamos respirando aliviados nas últimas rodadas porque os adversários conseguiram ser piores.

Já disse, e repito, que não quero a contratação de medalhões. Não espero a formação de um timaço de jogadores consagrados, pois sei que o Clube não tem cacife financeiro para isso. Nem 8, nem 80. Acredito que podemos achar um meio termo aí para investir em jogadores que nos dêem ao menos esperança de triunfar. Pagar mais. Trazer jogadores compatíveis com a grandeza do Atlético. Que consigam mostrar um futebol ao menos regular.

O que mais assusta é a tolerância com jogadores que, além de fracos tecnicamente, são “largados”, desmotivados, não mostram nenhuma empolgação em jogar pelo Atlético. Eu quero que o Clube para o qual eu torço, e para o qual eu pago ingresso, não admita esse tipo de coisa. Quero que caia a casa quando os jogadores fizerem corpo mole, como nesta derrota ridícula para o Figueirense.

Mas não, o Atlético mantém no elenco todos estes jogadores, que não mostram ao menos a vontade que deveriam para honrar a camisa rubro-negra. Fazem um corpo-mole desgraçado, e, no jogo seguinte, tá todo mundo escalado. É como aquela mulher que sai com todo mundo, e reclama que nunca arranja namorado. Daí dizemos pra ela: “também, você não se dá valor, quer que os outros dêem?”. Há de se dizer o mesmo ao Atlético: dê valor à sua camisa, faça os jogadores darem valor a ela, senão nunca teremos atletas realmente comprometidos com o Clube.

Compreendo que a negociação de jogadores é necessária, Mas não pode se sobrepor ao rendimento técnico. Se um jogador é comprovadamente fraco, não adianta mantê-lo no elenco, ou emprestá-lo a um Brasiliense da vida para ver se aprende a jogar bola. A insistência só nos prejudica.

Recuperação

Outro fato que chamou atenção em 2006 foi a falta de capacidade de recuperação, de corrigir defeitos ao longo do ano. A “fuga” de Matthaus é usada até hoje como se fosse o maior problema enfrentado pelo Atlético, responsável por toda a cadeia de fracassos de 2006. Se a conduta do alemão foi reprovável, também é criticável a postura do Clube que não conseguiu superar este fato, não conseguiu mostrar autonomia pra reestruturar seu planejamento por conta própria. A mesma passividade foi repetida ao longo do ano, como na insistência em Givanildo, que por meses e meses não conseguiu se impor no comando técnico e precisou se estranhar com Dagoberto para ser demitido.

Ambiente

E o ambiente dos jogadores? O Diretor de Futebol veio, parece ter ajudado em algumas contratações... mas, em termos de convivência com os jogadores, parece não ter adiantado nada. Há notícias de que, no jogo contra o Pachuca na Baixada, jogadores chegaram a trocar agressões. É nítido, para o torcedor, que o elenco está “rachado”.

Interrogação

O Atlético de 2006 está longe do que pretendemos ver. A torcida vai perdendo a paciência, e a vontade de “consumir” o Atlético é cada vez menor. O torcedor “não-elitizado” se afasta. O torcedor que pode pagar, paga, e paga caro. O time não ganha títulos, não satisfaz seus consumidores. A final, o que o Atlético quer?


Este artigo reflete as opiniões do autor, e não dos integrantes do site Furacao.com. O site não se responsabiliza e nem pode ser responsabilizado pelas informações acima ou por prejuízos de qualquer natureza em decorrência do uso dessas informações.