Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

A grande vitória do ano

27/11/2006


O ano de 2006 começou e o atleticano levitou. Tirou os pés do chão, embalado por um vice da América ano antes e por uma boa campanha no nacional. A diretoria também voou longe, prometeu um ano de conquistas, nas palavras sempre impactantes de Mario Celso Petraglia. Tirando o fôlego do mundo, trouxe Matthaüs, lenda do esporte. Alvíssaras mil no alvorecer do ano Rubro-negro. Como a choldra que vibra com os prometeres paternais de um imperador no parlatório no alto de um castelo, a massa atleticana delirou com a expectativa de tempos de glória.

Um ataque com Aloísio e Dagoberto seria o melhor do Brasil. O restante do elenco, de jovens, iria dar a alma pra jogar nesse escrete e fazer nome no ano da Copa, à vista de um dos embaixadores do evento da Alemanha. Todo mundo acreditou, eu, o caro leitor, todo mundo. A diretoria toda, o Fleury da Rocha, o Petraglia, meio mundo. Faltou avisar o destino. Faltou pedir a ele para nos eximir da falha, como se fosse possível exigir que as coisas saíssem do jeito que a gente gostaria simplesmente por nossa vontade. No futebol, esta imitação condensada da vida, a falha independe da vontade de não falhar. Assim como estão envolvidos sentimentos nobres, há também os mais mundanos, sujos, vulgares. E por uma série de fatores, que o atleticano viu ao longo do ano, não conseguimos chegar a este momento com o delicioso barato da vitória entorpecendo nossas mentes.

No futebol, a verdade é a doce ou amarga sina do resultado em campo. Não há meio termo e por isso fica difícil valorizar qualquer conquista que não possa ser expressa em placares ou pôsteres. Mas o prelúdio desta humilde coluna, serve para lembrar o que impede a maioria de enxergar a grande vitória do ano, a que nos fará, no tempo certo, ser o clube que sempre desejamos: a conquista definitiva, jurídica e urbanisticamente endossada, do terreno do colégio e a certeza que a partir de janeiro, nosso templo, nossa amada casa, começará a ter seus pilares fincados para erguer-se do chão. Para mim, nada pode ser mais importante do que isso. A visão daquele lugar sagrado, pronto, para quarenta mil atleticanos, embala grandes sonhos de conquista do Rubro-negro querido em minha mente. Me corta a carne ouvir dizerem, “que Arena nada, que estrutura, que nada, eu quero é títulos!”. Para mim é tudo uma coisa só. Falta um pedaço para o Atlético ser o que ele merece e que todos nós desejamos com nossas vísceras, corações e cérebros: um clube altamente vencedor também dentro do campo.

O Atlético, nos últimos onze anos, vem galgando patamares. De 95 a 98, o importante era permanecer na primeira divisão, onde éramos recém chegados. Com a construção da Arena, em 1999, galgamos a um outro patamar. Não éramos mais um time que não queria cair de divisão apenas, a Arena nos deu um sentimento de maioridade, e fomos fazendo boas campanhas, chegamos a um titulo Brasileiro, fomos a três Libertadores, disputamos títulos nacionais e internacionais. Ainda estamos neste patamar e para subirmos mais um, é mandatória a finalização da Arena. Éramos um clube sem nada, sem estrutura e estamos hoje bem perto da realização do nosso grande sonho. Desde o início do projeto atleticano, iniciado na Revolução de 95, se buscava conquistar aquele pedaço de chão. Agora ele é nosso de fato e de direito. Um grande vitória, para alegrar nossos corações, a motivação para continuar acreditando nessa grande missão que se chama Clube Atlético Paranaense.

A Baixada me fascina. Ela é parte fundamental nas nossas aspirações. É de uma ignorância atroz menosprezar a nossa estrutura, o quase finalizado CT do Caju, futurístico; a Arena com sua organização, conforto e respeito ao torcedor; e tudo o mais que está sendo feito no Atlético em termos de tecnologia e modernidade, como se isso concorresse contra a conquista de títulos. São as bases para fazer um clube de alcance local buscar os vôos maiores que deseja. Tem gente que faz piada do projeto atleticano. Eu acredito piamente nele, sempre acreditei, me sinto como testemunha de uma passagem histórica do nosso clube, agradeço aos céus por ter vivido estes últimos onze anos, se eu chegar a viver mais, quero olhar pra trás, quem sabe, velho, e ver que eu estive naquele momento. Não caiu a ficha de muita gente que nosso clube é calouro no rol dos grandes, nossa torcida é incipiente, pouco mais de um milhão, que estamos num estado sem “sentimento paranaense”, dividido entre os paulistas no norte e os gaúchos no sudoeste. Temos muito a fazer, muito a construir, driblando as dificuldades de se localizar em uma cidade que não é protagonista da vida nacional, com uma economia pequena, sem grandes verbas publicitárias, num mercado restrito, numa cidade de gente tímida. E mesmo com essas dificuldades, chegamos tão longe, graças aos resultados (sempre eles).

Quem não quer títulos, quem não quer vencer? Eu quero também. Mas não sou um passivo, que espera canetadas paternalistas, decretos que vão fazer minha vida mais feliz. Sou protagonista da minha vida e nela se inclui o Atlético, impossível dissociar. Eu também quero que a diretoria, faça um time melhor pro ano que vem, baseado nos erros do ano que ainda corre. Quero que não erre de novo, pois nada mais sábio que aprender com os erros. Que limpe parte da prateleira, tirando as peças que não deram certo. Quero ver o que o Marcos Teixeira pode fazer partindo do início de uma temporada. É também importante que o Petraglia entenda o peso da sua palavra e não prometa mais nada, apenas comunique aquilo que fizer. Mas não vou exigir como uma criança mimada um timaço, pra papar tudo, cheio de nomes que vão fazer brilhar os olhos só de ouvir a escalação, o Atlético ainda não pode ter isso. Ainda. Mas dentro das nossas limitações, muito pode ser feito. Iniciar o ano com técnico, seja ele o Vadão ou não, já é um bom começo.

Mas esperar tudo, de braços ao alto, caindo no colo, simplesmente para o próprio regozijo? Ir no estádio, vibrar com uns gols, uma vitória, ir pra casa depois de um momento de expurgo de demônios? Talvez o futebol seja isso pra muita gente, mas o Atlético Paranaense é mais do que isso. Muito mais. Muito mais do que os parcos dois mil e poucos pacotes vendidos; muito mais do que as brigas estúpidas dentro da Baixada; muito mais que torcida organizada querendo mandar sem ter direito; que ratos querendo aparecer usando o nome sagrado do Atlético; muito maior que os jogadores sem qualidade que vestiram a camisa do Atlético este ano; que a celebridade do futebol mundial que fez turismo sexual em Curitiba; que o ex-lavrador sem caráter que dividiu o clube. O Atlético é maior que os erros, que as falhas, que os insucessos. Só o fato dele existir é uma vitória. Temos que fazer por merecer esta existência, valorizar com participação real o fato do Atlético estar em nossas vidas.

A hora de subirmos mais um degrau está chegando. O “meio-estádio” vai ser inteiro. Isso não é promessa, delírio ou devaneio. Isso é real, palpável como uma viga de concreto. E fazer parte dessa obra, construir junto este ideal, colocar as mãos nessa empreitada, é algo para se orgulhar. Para olhar para trás, no futuro, quando o Atlético, seguindo seu destino, for ainda maior, mais forte e vitorioso e dizer: “eu fiz parte dessa história”. Em 2006, nós fomos vitoriosos, sim senhor.


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