Fernanda Romagnoli

Fernanda Romagnoli, 51 anos, é atleticana de coração, casada com um atleticano e mãe de dois atleticanos. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Reflexões

19/11/2006


Final do ano é assim: a gente fica pensando na vida e tentando rever as coisas para vermos aonde erramos, na esperança de que essa análise nos capacite a não cometer os mesmos erros novamente. Nas duas últimas edições do Campeonato Brasileiro os times atleticanos foram pavorosos do início até o meio. Porém, devido a recuperações realmente vertiginosas, criou-se a ilusão de que os times não eram tão ruins assim. Então nos pegamos em meio a pensamentos consoladores.

Temos o melhor estádio do Brasil. Mesmo com tanta inveja, o fato é que se a nossa querida Arena sendo meia é ótima e segura, imagina quando for inteira daqui a dois anos? Vai ter time torcendo para não disputar final com o Atlético porque não poderá refugiar-se a quilômetros de distância daqui.

Além disso, nosso Centro de Treinamento é referência no mundo todo. Participamos de diversas competições importantes, fora o Campeonato Brasileiro. Do jeito deles, somos até respeitados pela imprensa nacional, considerando que não fazemos parte do eixo Rio-SP, aquele da mídia ufanista e barrista (não necessariamente nessa ordem).

Temos uma diretoria que, embora controversa, é visionária e busca a todo instante deixar um legado para a nação rubro-negra.

“Tudo isso é muito bom, por que a crítica?”

Porque muitas vezes os atleticanos – diretoria, time, torcida - posicionam-se em uma zona de conforto proporcionada por esta série de coisas espetaculares que acabam causando uma certa miopia, uma visão distorcida de sucesso.

O fato de termos tudo o que temos nos credencia para obtermos respeito, vitória, público e a torcida mais bacana do país, mas é preciso um time pelo menos consistente para dar a contrapartida, um sentido para tudo. Não dá mais para morrermos do coração até a metade do campeonato nacional pensando se vamos nos juntar ao “ex-rival”. É também um tanto frustrante chegarmos ao “quase” em competições importantes, perdendo por detalhes que merecem uma análise a parte.

“Olha o quanto já alcançamos!”

Sim, é ótimo. Há pouco mais de 10 anos nem sonhávamos que seríamos o que somos. No entanto, o espírito “o importante é competir” é altruísta demais para o futebol. Começamos as temporadas querendo sempre mais, campeonato estadual já não é imponente. Porém, na segunda metade destas temporadas nos esquecemos do que sonhávamos quando, resignados, transformamos o alívio por ver a recuperação em euforia desmedida e nos satisfazemos com times limitados.

Só para ilustrar: Na última quarta-feira tínhamos condições de ganhar, mas preferimos ser apáticos. Preferimos nos comportar como se não importasse. Sei que nenhum jogador entra em campo para perder, mas não houve atitude de vencedor. E em meio ao desespero de ver algo mais vibrante em campo, grande parte da torcida elevou o Dagoberto à categoria de herói, clamando pela sua entrada. Quanto ao que a chamada “torcida organizada” fez, sem comentários.

Não tenho absolutamente nada contra o jogador Dagoberto, mas gritar o nome dele como se fosse a salvação da pátria me parece um pouco demais. Especialmente porque mesmo não acreditando em coincidências, o fato é que o jogador foi relacionado nos três últimos jogos, e em todos eles perdemos. Tem mais: tomando por base o histórico, esse moço terá meu apoio somente a partir do momento que jogar mais do que falar, mostrar um traço de lealdade e companheirismo e principalmente, nos trouxer algo mais expressivo em termos de resultado. Até lá, será apenas mais um, mesmo que recupere o magnífico futebol de dois anos atrás.

É imprescindível que comecemos a repensar o que de fato é bom. Não somente no que fazer, mas em como fazer. Assim como a maioria, não tenho fórmula, não conheço a verdade, sequer acredito em verdades absolutas. Mas refletir para quem sabe corrigir desvios é sempre um ótimo exercício, para todos: time, diretoria e até a torcida.

Eu ainda creio. Creio que é possível uma recuperação no México. Creio que o Atlético grande e vencedor é um objetivo que devemos buscar todos os dias, não somente em dois ou três jogos especiais. Mas vai que o Atlético que jogou contra o Santos e o Vasco reaparece?

Seria bom demais, e nada impossível.










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