Juliano Ribas

Juliano Ribas de Oliveira, 51 anos, é publicitário e Sócio Furacão. Foi colunista da Furacao.com entre 2004 e 2007 e depois entre março e junho de 2009.

 

 

Humildade

13/11/2006


A humildade é, talvez, o valor mais importante do caráter de um ser humano. Ela regula nossas ações, tempera a alma. Nos dá a sobriedade para procurar o caminho da verdade, nos traz à realidade. Não é freio, é prumo; não é modéstia, é simplicidade; não é prepotência, é confiança. É fácil perdê-la, pois trava uma eterna briga com o ego.

O futebol é feito de seres humanos, não há máquinas, não se "acerta o motor" de uma pessoa com se faz com os carros na Fórmula 1. O físico pode até ser tratado cientificamente, mas a mente tem peculiaridades que conferem a cada pessoa a sua individualidade. Se a mente não estiver bem, o físico não funciona como poderia. Num conjunto de individualidades, a única maneira de unir a todos em busca de um só objetivo, é pregando a humildade. Para cada um saber que não é melhor que o companheiro, que cada um, com maior ou menor habilidade, é parte importante no todo. Aí nasce o respeito mútuo, a valorização do ideal maior, a solidariedade que divide o peso da faina.

O Atlético tem, nesta quarta-feira, um importante desafio: corresponder à imensa expectativa de sua massa apaixonada em torno do título da competição sulamericana. O Atlético chegou até a semifinal da Copa Nissan apresentado um futebol focado, solidário, simples, objetivo e por isso conseguiu encantar. Foi a força de um grupo imbuído pela procura de um ideal comum, dividindo igualmente a responsabilidade, que fez florescer as individualidades, o talento, a marca pessoal. A responsabilidade dividida de maneira equânime deixa todos mais leves para arriscar, tentar coisa além. E é esse Atlético que todos querem ver contra o Pachuca, uma equipe que não chegou até este confronto por acaso. É bom time e eliminou o Lanús com toda a propriedade.

Depois de ser incensado intensamente devido a exuberantes apresentações, o time do Atlético perdeu-se um pouco, um tanto por cansaço, um tanto por soberba. Mas este desafio próximo, não permite a indulgência. É fundamental a mesma coalizão, solidez e retidão que nosso time vinha apresentando. Um se doando pelo outro, se alegrando com uma bela jogada do parceiro, buscando a eficiência no passe porque assim o trabalho do companheiro será facilitado. Buscando a superação sempre, aquela que libera a endorfina que faz sublimar os limites corporais. Busquem a overdose de endorfina, que fiquem viciados nela, viciados em vitória e obcecados pelo triunfo. Não existe maior recompensa que o sabor da glória. E o ponto de partida para saboreá-la, é a humildade. Pois a glória será de todos.

Dagoberto

Nunca ninguém duvidou que esse rapaz jogasse muita bola. Mostrou novamente que seu futebol tem fantasia. Mas toda fantasia pode vir acompanhada de uma máscara. E no futebol, como em qualquer parte da vida, as máscaras sempre acabam caindo. Hoje vemos Dagoberto como ele realmente é, depois de tudo o que passou, pudemos conhecer melhor seus hemisférios, as diversas facetas de sua personalidade, que estavam escondidas por trás de uma fachada de ídolo. Tem lugar no time, mas tem que ter a consciência que o seu trabalho não e mais importante do que o dos outros. Já estão falando que escolhe camisa, tira qualquer um do time. Ah, se no futebol apenas o talento bastasse. Basta para encantos efêmeros, não para vitórias eternas. A torcida atleticana quer a conquista da Sulamericana, quer este marco em nossa história. Se o Dagoberto aprendeu alguma coisa com sua derrota pessoal, será humilde para saber que não é melhor do que ninguém, talvez apenas tenha uma caixa de ferramentas maior, com mais itens. Mas para construir a vitória, as ferramentas de todos são necessárias. Com respeito e humildade, terá a chance de alcançar a redenção como jogador de futebol.


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