Sergio Surugi

Sergio Surugi de Siqueira, 66 anos, é Atleticano desde que nasceu. Neto de um dos fundadores, filho de um ex-presidente do Atlético, pai e avô de Atleticanos apaixonados, é doutor em Fisiologia e professor. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2009.

 

 

Ídolos: use com moderação

12/11/2006


Já faz muito tempo que não tenho ídolos no futebol. No Atlético ou na Seleção Brasileira, nenhum jogador me entusiasma a esse ponto, porém não foi assim sempre. Lembro da década de sessenta, acompanhando os jogos do Atlético na antiga Baixada e de um jogador, um “center-half” chamado Walter. Era o nove do time e os seus gols foram as primeiras alegrias que eu recordo como atleticano nato. Na pelada, no pátio do edifício onde morava, queria jogar como o Walter, pintava (com “pincel atômico”) um “9” na camiseta e quando eu fazia o gol, imitava o seu jeito de comemorar.

Infelizmente, mais rápido do que minha experiência infantil poderia prever, paguei caro pela minha idolatria. De repente, Walter foi jogar no time que atualmente perde até Atletiba genérico e que já não mais rivaliza conosco.

Rei morto, rei posto e depois de um período em busca de um novo ídolo, chegou ao Atlético o Zé Roberto. Outro goleador, outro ídolo, outra decepção. Ele também foi embora e logo para onde? Para o time que hoje está merecidamente na segundona e que por lá ficará por pelo menos mais um ano.

Pois bem, relato estas memórias exatamente no dia em que, segundo as especulações, Dagoberto, ídolo de uma geração de meninos iguaizinhos àquele que eu fui, deve retornar ao time do Atlético, depois de seguidas contusões e confusões.

Apesar de já estar vacinado e portanto não estar sujeito a uma nova decepção, minha expectativa ou melhor, curiosidade com o Dago é muito grande.

Dagoberto falou muito, seus representantes idem. Tenho certeza que os torcedores atleticanos, incluindo aí os admiradores de Dagoberto, estão significativamente menos preocupados com a qualidade do futebol que ele apresentará neste domingo do que com o seu comportamento dentro de campo, com o respeito que ele terá pela camisa do Atlético. Infelizmente não dá para esquecer que ele recomendou aos seus colegas de trabalho que pensassem duas vezes antes de disputar uma bola.

Ao Dagoberto, sugiro muita lucidez e sabedoria, pois o futuro de sua carreira pode estar muito mais dependente das suas atitudes do que das suas jogadas espetaculares.

Aos meninos, fãs de Dagoberto, eu recomendo moderação e resignação. Logo outro ídolo surgirá e assim será até que nas mentes e corações de cada um de vocês, deixe de existir a necessidade de que um objeto sirva de intermediário para o exercício da paixão que vocês sentem pelo Atlético, esta sim duradoura e recompensadora, sempre.

As coisas começam e terminam, é a lei natural da vida, contudo, a arte de terminar bem é o que conta e é o que diferencia o homem de caráter, o sábio, aquele que marca o seu nome por onde passa e que sabe valorizar e respeitar àqueles que um dia, mesmo que por um breve momento, acharam que o mundo girava ao redor de uma pessoa especial. De um ídolo.

Nem tudo está perdido. Felicidades ao, quem sabe eterno, Dagoshow.


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