1990 - É isso aí, Berg!

Com a conquista do título estadual de 1990, o Atlético garantiu a supremacia no futebol paranaense, após os títulos em 82, 83, 85, 88 e 90.

A conquista atleticana foi cheia de percalços, ao contrário do que havia ocorrido em 88. O primeiro empecilho foi a esdrúxula fórmula da competição. Os vinte e dois clubes foram divididos em duas chaves de onze. No primeiro turno, os times enfrentariam os adversários do seu grupo e no segundo, os do outro. Os seis melhores de cada grupo estariam classificados para o hexagonal. Os campeões dos turnos receberiam um ponto extra pela conquista.

Os dois melhores de cada chave do hexagonal garantiriam vaga na semifinal, quando só aí seriam decididos os finalistas. O melhor time do hexagonal teria vantagem de jogar por dois empates.

A diretoria atleticana, comandada pelo presidente José Carlos Farinhaqui, apostou no técnico Borba Filho para comandar a equipe, que contava com alguns remanescentes do título de 88, como o goleiro Marolla, o lateral Odemílson e o volante Cacau. A campanha do primeiro turno foi brilhante.

O Atlético terminou invicto, com 8 vitórias, 2 empates e 18 pontos ganhos, terminando como melhor time do estado. Porém, o segundo turno foi desastroso. A equipe caiu de produção e ficou dez partidas consecutivas sem conseguir obter sequer uma vitória. A péssima campanha derrubou o técnico Borba Filho e o auxiliar Nílson Borges assumiu o cargo interinamente.

Na última partida do segundo turno, o Furacão venceu o Paraná Clube, recém-criado e terminou a fase em sexto lugar. Para o Hexagonal, a diretoria contratou o experiente técnico Zé Duarte, com um estilo calmo e de fácil relacionamento com os jogadores. Por sua indicação, foram contratados reforços e o time voltou à boa fase. O Furacão fez novamente a melhor campanha do Hexagonal e também nesta fase ficou invicto, com 5 vitórias e só um empate.

O adversário da semifinal foi o Operário. O primeiro jogo, em Ponta Grossa, acabou em vitória do adversário (por 2 a 1). No jogo de volta, realizado na Vila Capanema, o Atlético venceu por 1 a 0 e garantiu vaga na grande final, contra o Coritiba. Os dois jogos da final foram memoráveis. Graças à melhor campanha do Hexagonal, o rubro-negro tinha vantagem de dois empates para ser campeão e foi o que aconteceu.

O Coritiba vencia o primeiro jogo, numa quarta-feira à noite, até os 44 minutos do segundo tempo, quando o goleiro Gérson cometeu uma falta próxima da área. Gilberto Costa cobrou com precisão e o predestinado Dirceu cabeceou para o fundo das redes, calando a torcida coxa-branca.

O inesquecível gol de Berg

No domingo, a grande final para decidir quem seria o campeão de 90. O Atlético abriu o marcador aos 5 minutos novamente com Dirceu, de cabeça. No entanto, o Coritiba conseguiu a virada antes do intervalo, com gols de Pachequinho e do zagueiro Berg. No segundo tempo, o Atlético foi para cima e empatou em um gol antológico.

Odemílson cobrou lateral na ponta-esquerda, a zaga do Coritiba fez lambança e Berg, pressionado por Dirceu, tentou consertar, cabeceando para trás e buscando mandar a bola para escanteio. No entanto, a bola caprichosamente encobriu Gérson e foi morrer no fundo das redes, para explosão da nação atleticana presente no Couto Pereira.

O Coritiba ainda ameaçou entrar na Justiça por considerar a fórmula do campeonato injusta, mas esse desespero só serviu para aumentar a alegria atleticana. Atlético, campeão de 90 e da década!

Final - Paranaense - (05/08/1990) - Atlético 2 x 2 Coritiba
L:
Couto Pereira ; A: Afonso Vitor de Oliveira; P: 42.196; R: Cr$ 17.252.850,00; G: Dirceu, aos 5, Pachequinho, aos 13 e Berg, aos 45 do 1°; Berg (contra), aos 26 do 2°.

ATLÉTICO: Marolla; Valdir, Leonardo, Heraldo e Odemílson; Cacau, Gilberto Costa e André (Osvaldo); Carlinhos, Dirceu e Rizza (Serginho). Técnico: Zé Duarte.
CORITIBA: Gérson; Ditinho, Berg, Jorjão e Paulo César; Hélcio, Serginho (Aurélio Carioca) e Tostão; Ronaldo, Moreno (André) e Pachequinho. T: Paulo César Carpegiani.

A Campanha

31 jogos: 15 vitórias / 11 empates / 5 derrotas / 45 GP / 30 GC

1ª fase - 1º turno
Sport Campo Mourão 0 x 1 Atlético
Atlético 1 x 1 Apucarana
Grêmio Maringá 0 x 1 Atlético
Operário 0 x 0 Atlético
Atlético 3 x 2 Platinense
Atlético 1 x 0 Arapongas
Foz do Iguaçu 1 x 2 Atlético
Atlético 3 x 2 Paranavaí
Iguaçu 0 x 1 Atlético
Atlético 4 x 0 Umuarama

1ª fase - 2º turno
Atlético 2 x 3 Matsubara
Cascavel 2 x 2 Atlético
Atlético 0 x 0 Pato Branco
Coritiba 3 x 0 Atlético
Atlético 0 x 0 Toledo
9 de Julho 0 x 0 Atlético
U. Bandeirante 1 x 1 Atlético
Atlético 0 x 0 Maringá
Atlético 0 x 1 Londrina
Batel 2 x 1 Atlético
Atlético 2 x 1 Paraná

Hexagonal
Atlético 1 x 0 Batel
Sport C. Mourão 1 x 5 Atlético
Atlético 3 x 2 Matsubara
Coritiba 2 x 2 Atlético
Atlético 2 x 0 Operário
Apucarana 1 x 2 Atlético

Semifinal
Operário 2 x 1 Atlético
Atlético 1 x 0 Operário

Final
Coritiba 1 x 1 Atlético
Atlético 2 x 2 Coritiba

Artilheiros:
Kita – 10 gols
Dirceu – 9 gols
Serginho – 8 gols

Personagens

Gilberto Costa: então com 33 anos, era o grande líder do time. Experiente, comandava o meio-campo e era o principal responsável pela criação de jogadas, abusando dos lançamentos de longa distância para os atacantes.

Carlinhos: havia sido campeão em 88 e retornou ao time depois de uma breve saída. Habilidoso e rápido, foi o responsável direto por muitos gols do Furacão na campanha de 90.

Dirceu: De reserva de Kita, passou a grande ídolo da torcida depois de marcar 9 gols no campeonato, sendo 4 no Coritiba (em três clássicos).

Zé Duarte: ele não dirigiu a equipe durante todo o campeonato. O Atlético começou a competição sob o comando de Borba Filho, que dirigiu o time durante quase toda a primeira fase. Os maus resultados no segundo turno acabaram derrubando Borba Filho, que foi substituído interinamente pelo auxiliar-técnico Nílson Borges. Para o Hexagonal, a diretoria contratou Zé Duarte, um técnico calmo, de fala mansa, mas muito conhecedor do futebol. Ele indicou jogadores do interior de São Paulo, como Rizza e André, que reforçaram a equipe e acabaram levando o Atlético ao título. O treinador assumiu as limitações do time e formou uma equipe extremamente guerreira, capaz de vencer os adversários mais preparados tecnicamente. Depois de deixar o Atlético, Zé Duarte fez sucesso comandando a Seleção Brasileira feminina, sendo respeitado como um dos principais incentivadores do esporte entre as mulheres no país.

Curiosidades

• O goleiro Betão, do União Bandeirante, marcou um gol contra o Batel chutando a bola de dentro de sua própria área.

• O Paraná Clube, oriundo da fusão entre Colorado e Pinheiros, disputou seu primeiro campeonato.

• O zagueiro Wagner, do Paraná, morreu após uma disputa de bola com Charuto, do Sport Campo Mourão.

• O meia Pedralli, do Atlético, quebrou a perna em uma disputa com Dedê, do Umuarama.

• O Atletiba de 1° de maio teve um excelente público: 55.897 torcedores.

•  Neste mesmo jogo, a torcida do Atlético colocou em campo um porco vestindo a camisa do Coritiba.

• O tradicional grito "Atirei o pau nos coxas", inspirado na música Another Brick in the Wall, foi cantado pela primeira vez em um estádio.

• O Atlético conquistou seu primeiro título com o uniforme novo, com listras verticais.