1949 - Um Furacão assombra o Paraná

O título do Campeonato Paranaense de 1949 é um dos mais relevantes da história do Atlético. Neste ano, o rubro-negro formou uma equipe tão forte e tão superior aos adversários que passou a ser chamada de Furacão. Com o tempo, o apelido daquele time de 1949 passou a ser empregado também para identificar o próprio clube.

A equipe de 1949 era praticamente a mesma do ano anterior. A maior diferença foi no comando do ataque: em lugar de Guará, entrou o artilheiro Neno, ex-Coritiba. Depois de retornar da II Guerra Mundial, Neno optou por jogar no Atlético e não no Coritiba. Caiu como uma luva no time e formou um ataque que é citado na ponta da língua por todo atleticano: Viana, Rui, Neno, Jackson e Cireno.

O Paranaense começou somente em maio de 1949, mas antes disso o time dirigido pelo técnico Motorzinho já havia dado mostras de sua força. Venceu a II Taça Cidade de Curitiba, batendo os rivais Coritiba e Ferroviário. Além disso, empatou por 3 a 3 em um amistoso contra o Corinthians, maior força do futebol paulista naquele tempo.

Na competição estadual, não houve tempo para os adversários respirarem. Foram apenas doze partidas, mas uma campanha irretocável. No primeiro turno, disputou três jogos em casa e três fora. Em todos os três da Baixada, o Atlético marcou quatro gols. Nos jogos fora de casa, foi ainda melhor: foram cinco gols. Destaque para a impiedosa goleada por 5 a 1 sobre o Coritiba, na casa do adversário.

Veio o segundo turno e o ritmo não diminuiu. O futebol era tão impressionante que a equipe passou a ser chamada de “tufão” pela imprensa. O apelido não durou muito. Logo, viram que o fenômeno mais adequado para representar a potência daquele time era o “furacão”.

Logo no início do returno, enfiou 7 a 3 no Água Verde, amedrontando os próximos adversários. Depois da segunda vitória neste turno (4 a 2 sobre o Britânia), passou-se a cogitar o término do campeonato. Ninguém mais duvidava que o Atlético seria campeão e, mesmo ainda faltando quatro rodadas para o fim, circulou um boato na imprensa de que os clubes iriam desistir da competição, pois não haveria sentido em jogar contra uma equipe muitas vezes superior.

1949 foi o ano em que o Atlético virou Furacão.

Já sem adversários no Estadual, o Atlético passou a disputar amistosos. Em setembro, viajou para Minas Gerais e venceu o Sete de Setembro por 6 a 3 e o América (então campeão mineiro) por 2 a 1 . No mês seguinte, disputou um amistoso contra o São Paulo de Londrina, no interior do estado e venceu por 8 a 0. No final do mês, o time viajou para Assunção, no Paraguai, na primeira viagem internacional de uma equipe paranaense.

De volta ao Paraná, venceu o Palmeiras por 4 a 3, no primeiro jogo em que teve uma vantagem de apenas um gol. O time já estava cansado e desinteressado do campeonato. Na semana seguinte, goleou o Juventus por 4 a 0 e conquistou o título de forma antecipada.

Nas duas últimas rodadas, só cumpriu tabela: uma vitória sobre o Coritiba, para não perder a festa e, surpreendentemente, uma derrota para o Ferroviário, na última partida. Já totalmente sem aspirações, o time não se empenhou na partida, pois não treinava desde a conquista do título. Se a derrota tirou a invencibilidade, não conseguiu acabar com o brilho daquela campanha.

Em 1949, o Atlético quebrou o recorde de invencibilidade do Coritiba de 1947. Mais do que isso: obteve onze vitórias consecutivas, feito histórico. O ataque foi sensacional: marcou 49 gols nos 11 primeiros jogos (média de 4,4 por jogo).

Mantendo o mesmo ritmo de goleada

Não houve final no Campeonato Paranaense de 1949. E nem poderia ter sido diferente. O Atlético liderou a competição de cabo a rabo, ganhou os dois turnos e conquistou o título com duas rodadas de antecipação. Aliás, conquistou apenas formalmente, pois na opinião de todos o título estava decidido há muito tempo.

O jogo que definiu a posse do troféu de 1949 para a Baixada ocorreu no dia 19 de novembro de 1949, no Estádio da Baixada. A edição da Gazeta do Povo do dia do jogo dizia o seguinte: “O Furacão, na tarde de hoje, será o campeão”. Portanto, não houve surpresa nenhuma após a goleada.

Não foi uma atuação de gala, pois o time já não estava tão empolgado como nos jogos anteriores e ainda havia jogadores cansados da viagem ao Paraguai. Mesmo assim, jogando sem muito esforço, o Atlético goleou.

A forte chuva atrapalhou, mas o ponta-esquerda Cireno abriu o marcador no primeiro tempo. Na etapa final, o artilheiro Neno marcou dois e Rui fechou a goleada, para delírio da torcida. Os jogadores foram muito homenageados pela diretoria e pela torcida. Foi realizada mais uma edição do “show da vitória”, que já havia feito sucesso em 1943 e 1945. Todos os atletas receberam títulos de “Doutores em Futebol”. Muito justos, por sinal.

Final - Paranaense - (19/11/1949) - Atlético 4 x 0 Juventus
L:
Baixada; A: José Barbosa de Lima Neto; G: Cireno, Neno (2) e Rui.

ATLÉTICO: Laio; Délcio e Waldomiro; Waldir, Wilson e Sanguinetti; Viana, Rui, Neno, Jackson e Cireno. Técnico: Motorzinho.
JUVENTUS: Borracha; Nei e Elias; Nico, Lalo e David; Xixo, Juve, Washington, Boluca e Zequinha. Técnico: Miranda.

A Campanha

12 jogos: 11 vitórias / 1 derrota / 49 GP / 19 GC

1º Turno
14/05 - Atlético 4 x 2 Água Verde
22/05 - Atlético 4 x 0 Palmeiras
05/06 - Juventus 1 x 5 Atlético
19/06 - Britânia 1 x 5 Atlético
03/07 - Atlético 4 x 2 Ferroviário
07/08 - Coritiba 1 x 5 Atlético

2º Turno
18/09 - Água Verde 3 x 7 Atlético
25/09 - Atlético 4 x 2 Britânia
13/11 - Palmeiras 3 x 4 Atlético
19/11 - Atlético 4 x 0 Juventus
27/11 - Atlético 3 x 2 Coritiba
04/12 - Ferroviário 2 x 0 Atlético

Artilheiros:
Neno (Atlético) – 18 gols

Personagens

Jackson: o meia-esquerda finalmente se consagrou no Atlético. Realizou sua melhor temporada e despertou a atenção do Corinthians depois de um amistoso realizado em Guarapuava. Na conquista do Campeonato Paranaense, formou uma ala esquerda fortíssima com Cireno.

Cireno: ao lado de Jackson, barbarizou. Não deu trégua aos zagueiros adversários e cravou seu nome definitivamente no futebol paranaense. O famoso ataque formado por Viana, Rui, Neno, Jackson e Cireno tornou-se uma marca na história do futebol paranaense.

Neno: jogou apenas um ano no Atlético, justamente o do Furacão. Havia sido artilheiro do Campeonato Paranaense por três anos consecutivos (1941, 42 e 43), jogando pelo Coritiba. No Atlético, viveu uma excelente fase e marcou 18 gols em apenas onze jogos.

Motorzinho: o técnico foi um dos principais responsáveis pela armação do time. Como jogador, integrou o histórico time do Internacional que ficou conhecido por “Rolo Compressor”. Dois anos depois de encerrar a carreira como atleta, entrou para a história como técnico do “Furacão”.