1940 - Campeão sem jogar a final
O Atlético iniciou o Campeonato Paranaense de 1940 fortalecido. Com a eleição de Claro Américo Guimarães para a presidência do clube, os jogadores que haviam formado o “Atlético Extra” em 1939, como o goleiro Caju, voltaram a fazer parte do grupo principal.
O time foi armado com praticamente os mesmos jogadores que estavam no clube. As principais novidades surgiram no ataque. Com a contratação do meia-direita Sardinha, que havia sido co-artilheiro do Paranaense de 39 pelo Coritiba, Renato foi deslocado para a ponta-direita. Levoratto firmou-se como centroavante e Érico, outro remanescente da última temporada, como ponta-esquerda. Na meia-esquerda, revezaram-se Pinto e Oscar, contratado do Juventus.
O regulamento do campeonato editado pela Federação Paranaense de Futebol adotou a “Fórmula Fraga”, que consistia na realização de dois turnos, com a final sendo disputada pelos campeões. Caso um mesmo clube vencesse ambos os turnos, seria declarado campeão.
No primeiro turno, transcorrido durante os meses de março e junho, o rubro-negro fez uma campanha mediana. Dos seis jogos, venceu dois, empatou dois e perdeu outros dois. Marcou exatamente o mesmo número de gols que sofreu: onze. O fato mais positivo foi a goleada por 4 a 1 sobre o Coritiba, no campo do adversário. Na última rodada, que acabou decidindo o turno, o clube foi derrotado por 1 a 0 pelo Ferroviário, terminando na terceira colocação, um ponto atrás do Britânia.
Mais entrosado, o rubro-negro foi arrasador no segundo turno. Venceu seus quatro primeiros jogos, incluindo o clássico contra o Coritiba (2 a 0) e uma goleada sobre o Britânia (5 a 1), em um polêmico jogo no qual foram expulsos cinco jogadores. Nesta partida, o goleiro Caju foi excluído de campo depois de brigar com Joãozinho. Bortoloti foi improvisado no gol e mesmo sem um goleiro de ofício, o Atlético conseguiu construir um resultado histórico.
Um fato interessante foi a presença do famoso Arthur Friedenreich em Curitiba. A convite do Atlético, o ex-craque da Seleção Brasileira foi o árbitro do jogo contra o Palestra Itália, vencido pelo rubro-negro por 4 a 3, em 4 de agosto.
O único tropeço do turno aconteceu no empate por 3 a 3 com o Savóia, que terminou o campeonato em último lugar, mas havia vencido o Torneio Início. A equipe italiana foi a que mais empatou no campeonato: seis vezes.
Com Caju fazendo milagras, mais um título na galeria. |
Em outubro, o Atlético enfrentou o Ferroviário em seu último compromisso do segundo turno. Precisava de um empate para garantir a conquista do turno e a vaga na decisão do campeonato, contra o próprio colorado. Para vencer o título antecipadamente, o Ferroviário precisava vencer o Atlético e depois o Britânia.
Porém, o campeonato terminou de forma anômala. Aos 35 minutos do segundo tempo do jogo contra o Atlético, quando a partida estava empatada por 2 a 2, a diretoria do clube ordenou que seus jogadores deixassem o campo, em sinal de protesto contra a arbitragem.
O Atlético foi declarado vencedor da partida por 3 a 2 e o Ferroviário se recusou a enfrentar o Britânia, duas semanas depois. Pelas mesmas razões, o time colorado desistiu de disputar a “melhor de três” contra o Atlético, que ficou com o título de campeão paranaense de 1940.
De qualquer modo, a campanha atleticana foi irrepreensível. O time teve o ataque mais positivo (31 gols) e foi o menos derrotado (apenas duas vezes, ambas no primeiro turno). Com o melhor desempenho entre os sete participantes, nada mais justo que o troféu fosse para a Baixada, o sexto em quinze anos. Papelão do adversário
Não houve final no Campeonato Paranaense de 1940. Não porque a fórmula não previa uma decisão, mas simplesmente pelo fato de o Ferroviário ter desistido da competição. Portanto, a última partida do rubro-negro foi um jogo do segundo turno, justamente contra o Ferroviário.
A equipe colorada, vice-campeã estadual de 1939, venceu o primeiro turno com cinco vitórias e apenas uma derrota (para o Juventus). O jogo decisivo aconteceu no dia 30 de junho: vitória por 1 a 0 sobre o Atlético.
Esse desempenho credenciou o Ferroviário como um dos favoritos ao título. Mas o Atlético iniciou o turno final de maneira arrasadora. Depois da campanha razoável no primeiro turno (duas vitórias, dois empates e duas derrotas), o rubro-negro obteve uma seqüência de quatro vitórias no segundo.
O último confronto atleticano no segundo turno seria contra o Ferroviário, que lutava para conquistar o título de forma antecipada, precisando também vencer o Britânia. O Atlético precisava apenas de um empate para garantir sua vaga na final, contra o próprio Ferroviário.
A partida foi cercada de muitas expectativas. A imprensa anunciou o jogo como o “maior choque do ano”, destacando a força de ambos os times. O Atlético contava com o ótimo goleiro Caju e uma linha de defesa entrosada, que vinha atuando junto há mais de um ano. O ataque estava equilibrado, sem um grande destaque individual. Pinto já havia marcado 6 gols no segundo turno, enquanto que Sardinha havia feito 5 e Érico, 3.
Chegado o dia do grande embate, no Joaquim Américo, e a torcida compareceu em peso: foi o maior público do campeonato. Dentro de campo, os times fizeram exatamente o que deles se esperava: um jogo equilibrado e muito disputado. Com gols dos atacantes Érico e Renato, o Atlético ia garantindo o empate por 2 a 2 até os 35 minutos do segundo tempo. Faltavam somente dez minutos para garantir a conquista do segundo turno e a vaga na grande decisão.
Nesse momento, aconteceu o lance mais polêmico do jogo. O centroavante Mosquito disputou bola aérea com Anjolilo e tocou de cabeça para o meia-esquerda Ari Carneiro. Em completo impedimento, Ari mandou para o fundo das redes de Caju. Antes mesmo do gol, o árbitro Canhoto (ex-jogador do Palestra Itália) anulou o lance, assinalando a irregularidade.
Porém, os colorados não se conformaram. Por orientação dos diretores, o capitão do time ordenou que seus companheiros deixassem o gramado. No dia seguinte, o Ferroviário fez circular nota oficial explicando que a decisão foi tomada para que os jogadores “não servissem de atores de uma palhaçada”.
Para justificar a fuga, a direção enviou ofício para a Federação Paranaense de Futebol explicando a desistência do jogo e pedindo a marcação de uma nova partida. Além do gol anulado, o Ferroviário reclamou do segundo gol atleticano, marcado por Renato e da postura do árbitro Canhoto, que supostamente não teria prestado atenção às reclamações do capitão do time durante todo o jogo.
Além de manchar a história do Ferroviário, a atitude acabou por estragar a festa da torcida atleticana, que não pôde comemorar propriamente o título com uma vitória dentro de campo, como todos queriam.
O Atlético foi oficialmente declarado campeão paranaense de 1940 no dia 7 de novembro, através do Boletim Oficial n° 9, da Federação Paranaense de Futebol. Além disso, o Ferroviário foi punido com suspensão de dezoito meses e com pagamento de multa indenizatória ao Atlético e à FPF.
Arrependido, o Ferroviário tentou de todo jeito voltar atrás. Para tentar resolver o conflito com a Federação, a direção do clube pediu ao presidente do Atlético, Claro Américo Guimarães, que mediasse a tentativa de cancelamento da suspensão, feito que foi alcançado.
Porém, mesmo sem ter disputado a final, a festa atleticana foi grande, afinal o clube conquistou o campeonato estadual pela sexta vez em sua história.
Final - Paranaense - (06/10/1940) - Atlético 2 x 2 Ferroviário
L: Baixada; A:
Pedro Pereira do Nascimento (Canhoto); R: 5.619.000,00; G:
Érico, Renato, Pivo e Bonato;
ATLÉTICO:
Caju; Gotardo e Anjolilo; Pizatto, Bibe e Bortolotti; Renato, Sardinha, Levoratto, Oscar e Érico.
FERROVIÁRIO:
Luiz; Alfeu e Tatinha; Baiano, Bananeiro e Alexandre; Bonato, Ari Carneiro, Mosquito, Pivo e Rubens. |
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A Campanha
12 jogos: 7 vitórias / 3 empates / 2 derrotas /
31 GP / 21 GC
1º Turno
20/03 – Atlético 2 x 2 Palestra Itália
14/04 – Juventus 0 x 1 Atlético
28/04 – Atlético 1 x 4 Britânia
05/05 – Atlético 3 x 3 Savóia
19/05 – Coritiba 1 x 4 Atlético
30/06 – Ferroviário 1 x 0 Atlético
2º Turno
21/07 – Atlético 3 x 1 Juventus
04/08 – Palestra Itália 3 x 4 Atlético
18/08 – Britânia 1 x 5 Britânia
08/09 – Atlético 2 x 0 Coritiba
22/09 – Savóia 3 x 3 Atlético
03/10 – Atlético 2 x 2 Ferroviário (obs: Atlético foi declarado vencedor por 3 x 2)
Artilheiro:
Turin (Savóia) – 12 gols
Personagens
Caju: o maior ídolo da história atleticana conquistou seu quarto título com a camisa atleticana. Destacou-se em diversas partidas, especialmente nos clássicos contra o Coritiba. No jogo contra o Britânia, pelo segundo turno, foi expulso depois de brigar com Joãozinho.
Zanetti : apesar de não ter jogado a última partida, o zagueiro teve uma participação importante na conquista do título. O “Ciscador”, como era conhecido, foi um dos responsáveis pelo bom desempenho defensivo do rubro-negro na competição.
Sardinha : o meia-direita contratado do Coritiba encaixou-se bem no sistema de jogo do Atlético. Só no segundo turno, marcou cinco gols, demonstrando sua vocação para artilheiro (em 39, ele foi o goleador máximo do Campeonato Paranaense). |