Para
quem não é de Curitiba a chegada ao CT do Caju pode parecer
estranha. Afastado do centro da cidade, o cenário confunde-se
com os famosos pinheiros da região Sul e as casas humildes
do bairro Umbará. No meio do caminho, vários campos de futebol
e diversas pessoas vestindo o vermelho e preto do Atlético.
Já dá pra sentir que estamos chegando.
Na
entrada, um belo portal e uma sala de imprensa que homenageia
a jornalista Sônia Nassar, falecida em 2001. Soninha nunca
escondeu sua predileção pelo Furacão. Foi-se embora bem
no ano da maior conquista do clube. Melhor para ela. Assistiu
de camarote.
Para
recepcionar os convidados do dia, o assessor de imprensa
Carlos Guimarães. E foi Carlos quem nos levou ao nosso anfitrião:
Antonio Carlos Gomes, o responsável pelo CT. E lá
fomos nós descobrir o que é realizado dentro do CT do Caju
e que grande parte da imprensa não conhece.
A
Supervisão Científica foi o tema da palestra proferida.
Palestra, diga-se de passagem, encomendada pelo próprio
presidente Mário Celso Petraglia. Supervisão Científica
no data show e olhos colados na parede. Estava começando
a palestra do professor que chegou ao Atlético no ano 2000.
A
primeira explicação foi a de que como o futebol é regido
na atualidade. Antonio Carlos Gomes explicou que a cultura
do futebol é pobre, regida pela emoção, por interesses políticos
e financeiros. A solução para esse problema seria a de adaptar
o futebol para a cultura esportiva, onde os princípios pedagógicos,
as leis biológicas, a biomecânica, a psicologia façam com
que seja criada a ciência acadêmica. E é a partir daí que
o professor começa a aparecer no Atlético.
Antonio
Carlos Gomes explicou, em mais de duas horas de palestra,
as áreas de apoio social, educacional e de saúde. Tudo funcionando
dentro do próprio Centro de Treinamentos do Caju. "Tudo
no Atlético está interligado. Nossas categorias têm o mesmo
tratamento, seja do infantil ao profissional", disse o professor.
Valores
Os
grandes valores do Atlético em 2003 já saíram do forno.
Enquanto que de 1995 ao ano 2000 nenhum grande atleta veio
das categorias de base, neste ano teremos 13 atletas para
compor o time principal e que foram criados no CT do Caju.
"Trabalhamos muito a cabeça desses garotos. Damos todas
as condições para que eles possam mostrar um bom futebol.
Dispomos de psicológo a nutricionista e de médico a dentista.
Não falta absolutamente nada. Cuidamos até dos estudos desses
meninos. A gente não quer vibrar com um gol de um craque
hoje e amanhã vermos ele jogado num bar. Trabalhamos pelo
social", afirmou Gomes.
E
o trabalho é mais do que perfeito. Logo na entrada, à esquerda,
do prédio principal do CT, Miguel Figura cuida da biblioteca
dos jogadores. "É um prazer trabalhar no que a gente gosta
e com quem a gente gosta. Nesta sala não apenas entretemos
os craques com leitura ou joguinhos. Temos esse quadro que
muitos jogadores utilizam para estudar. Contratamos um professor
para nos auxiliar e já tem gente (do profissional), que
chegou aqui 'ruim de cabeça' e já está na 8º série", disse
Figura
Subindo
as escadas do CT, encontramos a sala do professor Antonio
Carlos. Há equipamentos que você nem imagina que existem.
Uma das máquinas mais curiosas é o 'calculador de impulso'.
No time atleticano os zagueiros Ígor e Daniel são os campeões
de impulsão. À frente da máquina, um monitor, vídeo cassete
e outro equipamento não menos curioso. O objeto detalha
a 'história' de um jogador numa determinada partida.
Para
quem não sabe, todos os jogos do Atlético são registrados
numa câmera posicionada bem acima da torcida adversária.
É o ponto ideal para ver o desempenho dos atletas. Se o
Rogério Corrêa deu 30 piques por partida, se o Alessandro
errou 8 passes ou se o Igor saiu da zaga bem na hora do
gol do time adversário: tudo será detectado pelo
equipamento.
Saindo
do prédio central, caminhamos para o departamento médico.
Na sala de fisioterapia um garoto do juvenil era cuidadosamente
tratado. Já nas salas dos médicos Henrique Carvalho e Igor
Shiminacio, o movimento era tranqüilo. Para animar o ambiente,
só o massagista Bolinha, que brincou com a caravana atleticana.
"Só quero ver o que vocês vão falar", disse o massagista.
Numa
salinha nas mesmas dependências, foi instalada a rouparia.
Chuteiras, calções, meias e faixas, todas detalhadamente
separadas por José Carlos Fumassa e Marcos Antonio, são
os destaques. Enquanto isso, do lado de fora, os jogadores
do elenco profissional faziam uma atividade de alongamento,
ao som de um pagode, comandado pelo preparador físico Solivan
Dalla Valle.
Mais
a frente, duas novidades: um lago artificial que serve para
os jogadores pescarem quando estão concentrados e um campo
de paredão, que serve para treinamento específico de pontaria.
"Realmente o nosso time está precisando de um bom batedor
de faltas", disse Antonio Carlos Gomes, sempre respondendo
perguntas no meio do caminho.
Já
no campo com arquibancadas, a comitiva, agora acompanhada
do administrador do CT, Péricles, acompanhou o alojamento
do grupo de coreanos que está fazendo estágio no Atlético
há mais de um ano. "Eles são umas figuraças", garantiu Péricles.
Do outro lado, um alojamento com mais de 25 beliches acomodam
meninos que chegam de outras cidades para fazer testes no
Furacão. "Nossa metodologia é fácil e barata. O garoto fica
uma semana com a gente. Analisamos cinco fatores: indicação,
psicologia, físico, habilidade e a técnica. Se for aprovado,
fica aqui mesmo no CT", disse Gomes.
Ao
todo, mais de 2500 crianças já fizeram esse tipo de teste
no Atlético desde a chegada do professor. É o maior programa
de descoberta de talentos do Brasil.
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