Valmor Zimermann
Um exemplo de abnegação à causa atleticana. Esse é Valmor Zimermann, que passou a ajudar o clube quando ouviu na rádio que os jogadores do Atlético não estavam treinando porque não havia dinheiro para lavar os uniformes. Reuniu alguns amigos e foi assim que surgiu a Retaguarda Atleticana, nos anos 70.
Na década seguinte, foi presidente por duas gestões, completando quatro anos no comando do clube. Ficou 30 anos no Atlético e participou ainda da diretoria de futebol em 2001, ano da conquista do Brasileiro. Sua dedicação ao rubro-negro foi tanta que um dia ouviu do filho de 9 anos: "Você não é meu pai. É pai do Atlético".
O que era a Retaguarda Atleticana e como surgiu esse movimento? Bom, isso surgiu nos anos 70. O Atlético tinha muitas dificuldades na época e cada dia saia uma desgraça no jornal. Um dia, saiu uma notícia na Tribuna dizendo que o Atlético não tinha treinado porque não tinha dinheiro para mandar lavar o uniforme de treino. Eu fazia parte de uma turma de amigos que ia a todos os jogos do Atlético, inclusive no interior, e nós achamos que, como torcedores, devíamos ajudar em alguma coisa. Daí nós fomos procurar o Lauro Rego Barros, que era o presidente na época, e perguntamos se era verdade a notícia do jornal. Ele confirmou e ainda disse que estava com as contas de telefone e de luz, prêmios e bichos atrasados. Então, formamos um movimento de arrecadação para ajudar o clube. Nós procuramos angariar sócios e esses sócios faziam contribuição. Com o dinheiro de rifas e bingos, começamos a pagar salário de jogador, luz, telefone, água. Com o passar dos anos, a maioria do pessoal da Retaguarda se integrou à diretoria do Atlético.
Quem eram os primeiros componentes da Retaguarda? Eu, o Valdo Zanetti, o Salmir Lobato, o Celso Gusso, o Douglas Schmitd, o Moacir Tosin e muitos outros. Depois nós fomos convidando outros, como o Petraglia, o Moura e o grupo foi ficando grande. Chegou uma hora que o Lauro Rego Barros pediu para a gente participar das reuniões e ajudar o clube.
Você teve problemas particulares em função de ser tão ligado ao Atlético? Ah, sem dúvida nenhuma. Não tanto pelo dinheiro que eu botei no Atlético – e eu coloquei muito dinheiro meu lá -, mas principalmente pelo tempo que eu dediquei ao clube. Quando você é presidente do Atlético, é quase impossível você cuidar dos seus negócios. Então, eu deixa meus irmãos tocando a minha empresa e isso impediu um crescimento maior da empresa. Além da criação dos meus dois filhos mais velhos. Eu passava o dia inteiro no clube e à noite ainda ia jantar com os outros diretores, só chegava em casa depois da meia-noite. Um dia minha esposa me ligou e disse que o Ricardo, meu filho que tinha uns nove anos, queria falar comigo e não podia esperar. Daí eu cheguei em casa e ele disse pra mim: “Eu quero dizer que você não é meu pai. Você é pai do Atlético. Os pais dos meus amigos vão para a chácara com eles no final de semana e você só quer saber do Atlético” (risos). Mas eu não me arrependo disso, de forma nenhuma.
Qual foi sua maior contribuição ao Clube Atlético Paranaense? Acho que foi a reabilitação financeira do clube. O Atlético estava numa situação muito difícil. Quando eu assumi, o Atlético não tinha crédito, ninguém queria fazer negócio. Quando eu saí, o Atlético comprava a prazo no comércio, comprava jogador de outros clubes. Então, acho que foi essa moralização do Atlético, deixar o clube respeitado. Eu não admitia que meu clube fosse motivo de chacota, que tivesse fama de mau pagador. Isso foi prioridade para mim. Se desse para ganhar ia campeonato, a gente ia ganhar, mas o prioritário era pagar as contas e formar uma base para o clube poder crescer. E o clube sempre veio crescendo, com alguns tropeços ou outros.
Você acha que hoje a torcida do Atlético é muito exigente com o time?
Não. Acho que a torcida do Atlético é das mais compreensivas, das mais pacíficas. Olha, se você for comparar com outras...A torcida do Atlético sempre só apoiou o time, mesmo nas piores horas. Eu acho fantástica essa torcida.
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