Sicupira

Barcímio Sicupira Júnior é o maior artilheiro destes 80 anos do Atlético Paranaense. Só que apesar dos 154 gols assinalados, Sicupira só foi campeão uma vez com a camisa rubro-negra. Em 1970 o clube ergueu o caneco em Paranaguá, depois de um jejum de 12 anos. "O Evangelino comandava o Coritiba naquela época. Sofremos muito com más arbitragens", disse o eterno craque da 8 ao Especial 80 Anos do Atlético Paranaense.

Comentarista do rádio e da tv, Sicupira às vezes é mais crítico ao falar do Atlético por conhecer bem o clube que trabalhou. " Acompanho o que passa no Atlético, mas estou completamente afastado do ambiente. Quando critico é porque quero ver o clube bem".

Como foi que você chegou no Atlético? Como foi o início de sua história dentro do clube?
Na verdade eu vim de Ribeirão Preto trazido por um torcedor do Coritiba. Ele me trouxe para jogar no Coritiba. Ao chegar no Coritiba, o pessoal estava muito envolvido com o Campeonato Brasileiro, o Coritiba ia disputar pela primeira vez, e não me atenderam...

Como é que era trabalhar no Atlético naquela época?
Tinha muita dificuldade. Por exemplo, o Alfredo trabalhava. Toda manhã ele trabalhava a à tarde ele ia treinar. Depois de 71, 72, ele começou a trabalhar de manhã e de tarde. Eu dava aula. Eu me formei em 71 e dava aula de educação física. Morava com meus pais, era solteiro, ganhava pro gasto. Mas assim mesmo, não lembro qual era o jogador que veio do Corinthians, ele ganhava cinco milhões e ele veio ganhando dez. Quando soube, disse que queria ganhar no mínimo a mesma coisa. Teve uma crise, não me lembro o ano, eu cheguei a assinar contrato em branco com o Atlético. Chegava no fim de ano não tinha dinheiro, não tinha Natal.

Você só conquistou um título. Foi uma das maiores jejuns do Atlético. Você não acha pouco um jogador do seu porte conquistar apenas um título?
Pra você ver como é que era a diferença, principalmente na década de 70. Eu cheguei em 68 e já nos anos 70 o Coritiba reinava, com o Evangelino no comando, trazia oito, nove jogadores do Santos, que eram titulares no Santos, e eram muito bons pro futebol daqui.

Por que decidiu parar de jogar?
Porque a confusão foi muito grande. Quando o presidente Aníbal Khoury estava retornando à política, ele quis retomar a popularidade e foi ser presidente do Atlético. Foi a pior fase que joguei no Atlético. Porque ele estava tratando muito mais dele do que do Atlético. Ele pegou o clube para se projetar. E a gente não recebia. Fomos para uma excursão no Espírito Santo sem dinheiro nenhum. Toda a delegação sem dinheiro, nem pra jogar uma cacheta, tomar uma cerveja, não tinha dinheiro pra nada. Cinco dias naquela bela cidade de Vitória e não trouxemos nem um presentinho pros parentes, nada. Foi uma coisa ridícula e eu fiquei tão desgostos com a situação que na volta fui imediatamente pedir reversão de categoria na federação. Sem ter qualquer tipo de problemas com a instituição, é bom que se frise isso. Passei bons e maus momentos, como em qualquer equipe.

Quando parou de jogar em 75, você continuou vivendo o ambiente do Atlético?
Não. Quando viajo para fazer jogo do Atlético, eu não fico no mesmo hotel da delegação. Porque eu tive a ver, tenho a ver com a instituição, não com as pessoas. Embora não tenho inimigos, às vezes sou mal-interpretado por fazer críticas ao Atlético. Mas veja bem, não é um atleticano fazendo críticas e sim um cronista esportivo.

Do que você mais sente saudade do Atlético?
Jogar. Eu sinto saudade do trajeto que a gente fazia do portão ao vestiário, passar pelo meio do povo quando tinha jogo. Aquilo era íntimo. Tem muito jogador do Atlético que se eu encontrar na rua, não reconheço. Porque a gente vê lá de cima. E ali não, ali a gente tinha intimidade. Jamais tive algum gesto hostil com torcedor. Um “perna-de-pau”, um xingamento é normal. Enquanto você não faz o gol, você não vale nada, fez o gol você é o maior do mundo.

 

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