Cireno

O Atlético deve muito ao atacante Cireno. Jogador do clube nas décadas de 40 e 50, foi um dos principais atletas do time que inspirou o apelido que o rubro-negro carrega até hoje: o Furacão.

Na conversa com o site Furacao.com, Cireno conta os momentos de sua infância, a dificuldade que teve no começo da carreira, de uma contusão que quase o afastou dos gramados ainda com 21 anos.

O atacante que foi convocado para a Seleção Brasileira em 49 também critica o bairrismo que existia na época e afirma que o Atlético Paranaense de hoje em dia não é mais o mesmo: atualmente o clube está mais profissional e os jogadores tem bem mais assistência do que quando atuava.

Quando o senhor começou a jogar futebol lá em Ponta Grossa?
Em Ponta Grossa? Eu comecei a jogar futebol em Mallet (risos). Comecei com uma bolinha de pano e um campinho perto de casa e tinha uma gurizada lá por perto. Depois fui para Ponta Grossa onde comecei a jogar no juvenil do Guarani. Não passou muito tempo, no início de 38, o ponta-esquerda do time foi embora e o capitão do time perguntou para o presidente do clube: “e agora?” Um deles disse que tinha um para botar na ponta-esquerda e o outro também disse a mesma coisa. O capitão disse: o senhor é que manda. E era o mesmo jogador. Eu (risos).

E a sua chegada a Curitiba? Como foi?
Eu vim para Curitiba em 02 de janeiro de 42. Comecei a treinar no mesmo dia. Eu tinha outros objetivos. O Vasco já tinha me feito uma proposta em 39 mas meus pais estavam com idade e não fui. Aí, em 40, tive outros planos. Em 41 joguei na seleção de Ponta Grossa, já tinha jogado contra o Atlético e contra a seleção paranaense, tinha me saído bem. Já sabiam que jogava igual aos "cabras" daqui. Então eu iria a Curitiba, procurar um clube que me desse um emprego para que pudesse jogar e pudesse me manter estudando. Eu já gostava do Atlético.

E acabou acertando facilmente? É verdade que o Atlético lhe arrumou outro emprego paralelo? Um emprego público?
Não, mas me disseram que quem arrumava a vida aqui era o Atlético. E fui treinar lá. Era um material muito ruim. No outro treino, eu fui e me deram um material melhor. Melhorei. Aí um cabra que conhecia estava jogando no Juventus porque tinham brigado com o Atlético. O Bilu Macedo, que era atleticano fanático, também tinha encrencado e também tinha saído. Aí descobriram, não sei como, onde morava. No outro dia, bateram com o automóvel lá em casa, estava na casa de um tio, disseram que foram me buscar para treinar com eles. Fui avisar a minha tia que ia treinar e treinei. No quarto dia de tarde, estava na sede do Atlético, perguntaram o que é que eu queria para jogar. Disse para eles que queria tal coisa. E acertei com o Atlético.

O senhor teve alguma dificuldade no Atlético, a torcida pegava no seu pé?
Quando andei machucado, em 43, joguei umas partidas e a torcida pegou no meu pé. Mexiam comigo na rua. Falavam que não podia jogar porque tinha caspa. Mas eles não sabiam da minha história. Ninguém contou. Naquele tempo não tinha ortopedista. Eu estava jogando contundido e fiquei quase um ano parado. Tinha 21 anos e por pouco não encerrei a carreira.

O Furacão de 49 foi a grande equipe do Atlético e que o senhor atuou. O que o senhor acha?
Nós tínhamos um baita de um time. Naquele tempo os caras sabiam jogar. Eles sabiam dar a bola para outro para chutar. Não dava pro outro “vê se controla e perca a bola”.

O senhor chegou a ser convocado para a Seleção Brasileira em 1949. Por que foi cortado? Existia muito bairrismo?
T inha, barbaridade. Eu fui convocado também porque tinha proposta dos clubes do Rio, de São Paulo. Mas tinha uma meia dúzia de pessoas que pediam assim: se eles ganham bastante dinheiro hoje, mas não terão uma velhice boa. Se você ficar por aqui, você terá uma velhice sossegada. Não deu outra. Morreu Zizinho, o goleiro Barbosa, o Ademir, Didi, não me lembro de outro agora. Todos morreram mal de vida e na minha época, quando tinha propostas dos clubes de lá, eles jogavam um bolão. E eles estavam certos. Você vai ter uma vida sossegada, vai ter aposentadoria. O Barbosa, não sei se vocês conhecem a história, acharam-no num rancho na Praia Grande, em Santos, e um que morava perto dele, que dava bola pro Barbosa, mas ele estava maltrapilho. O Zizinho não era bem de vida, mas ele morava com uma irmã que era bem casada. O Didi morreu pobre. O Ademir tiveram que pagar hospital quando ele morreu e tiveram que fazer um jogo beneficente entre Vasco e Fluminense. Todos eles morreram na miséria.

O senhor ainda vive o Atlético. Hoje, nesta entrevista, antes da gente chegar o seu filho afirmou que estava acompanhando a final de 2001 em vídeo - e ficou nervoso. Como é esse sentimento?
Só guardo alegrias do Atlético. Quando cheguei aqui era um guri caipira. Me formei em direito, trabalhei na Caixa 35 anos e o clube me agradou em toda a vida, mesmo depois quando parei. O Atlético representa tudo para mim.

 

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