Alfredo

Alfredo já poderia entrar para a história do Atlético Paranaense por um único motivo: ele é filho do principal jogador destes 80 anos de Furacão, o Caju.

Apesar de toda a paixão clubística na família, Alfredo foi estrear como profissional no Coritiba, no começo da década de 60 após um desentendimento com o treinador da época, Geraldino Damasceno. O fato corroeu o coração de Caju, que sempre afirmava que nunca torceria para o time alviverde.

Dois anos depois de atuar no Coritiba, Alfredo ingressou no Atlético, onde só saiu para jogar no São Paulo e no futebol mexicano. Ele é considerado um dos melhores zagueiros de toda a história do rubro-negro.

O fato de ser filho do Caju, atrapalhou, ajudou, ou não teve influência dentro do Atlético?
Não, não me atrapalhou, eu tinha muita personalidade. Tanto é que todo mundo dizia que eu tinha que jogar no gol. Não, fui jogar na posição que eu achava que tinha que jogar. Eu sempre fui um jogador com muita personalidade. Eu errava dentro de campo, eu sei disso. 90% eu acertava, mas errava, errava por abusar da facilidade que eu tinha de jogar futebol. Eu era muito técnico e de vez em quando perdia...

Quem te descobriu como zagueiro?
A minha posição original era meia. Joguei assim no Coritiba antes de voltar para o Atlético, onde eu tinha sido juvenil. Foi um fato inusitado, porque o time tinha ido muito mal em 67 e daí houve aquela revolução em 68 com o Jofre, que assumiu o time e tirou da 2ª divisão com a caneta. No final de 68 o Jofre morreu e o Atlético voltou naquele marasmo. Ficou uma administração provisória, o time mal e nós tivemos no final do ano, o seu Alfredo Ramos tinha sido contratado e nós estávamos jogando contra o Água Verde, lá na Vila Guaíra, e o Tião, que era zagueiro, machucou. Eu estava jogando como volante e o seu Alfredo Ramos colocou o Nair como zagueiro, mas a posição original dele era volante. E eu, dentro de campo, conversei com o Nair, falei ‘Nair, vem aqui para a frente, jogue na tua, que eu sou mais alto que você e vou de zagueiro'. E eu acabei me dando bem, porque me adaptava em qualquer posição, no Atlético eu joguei de lateral, joguei de volante, mesmo depois de ter me consagrado como zagueiro, joguei muitas vezes como volante e como lateral-direito. Apesar de quando jogava na zaga, ficava do lado esquerdo, quarto-zagueiro. Não tinha dificuldade jogar no lado direito. Nesse dia, o seu Alfredo Ramos deu uma bronca, porque como é que eu tinha resolvido, dentro do campo, que ia jogar de zagueiro e que o Nair ia de volante. Mas como na verdade só tinha o Cláudio, que era um moleque estava subindo dos juniores para o profissional, não tinha experiência nenhuma. Eu já tinha 23, 24 anos. Aí, o seu Alfredo durante a semana foi conversar comigo para saber se eu me adaptava, se eu queria jogar como zagueiro e falou para mim: ‘olha, você é o melhor volante que eu tenho, mas eu tenho problema porque não tenho zagueiro, você concorda em jogar?'. Daí eu falei pra ele: ‘eu concordo em jogar de zagueiro desde que o senhor me treine'. Aí ele falou: ‘não, não tem problema. Todos os dias, depois dos treinamentos, eu vou treinar com você'. Daí, todo dia, do final de 69 até 70, era todo dia treinamento, era treinamento específico para zagueiro. Aprender cobertura, a cabecear, aprender tudo. E aí foi que eu acabei me consagrando como zagueiro.

Aquele time de 70, quebrou uma hegemonia, ganhou um título depois de 12 anos, com uma torcida apoiando cada vez mais o clube. Como foi?
No primeiro turno nós não ganhamos de ninguém. Nós apenas empatamos com o Coritiba, 1 a 1, no finalzinho do 1º turno. E aí, no 2º turno, o seu Alfredo tinha muito conhecimento com o pessoal de São Paulo, ele trouxe o Zico, que foi uma dupla, eu e o Zico fizemos uma dupla excelente de zaga. Ele trouxe o Zico, trouxe o Julio, o Toninho, de Santa Catarina, volante, trouxe o Miltinho. E ali ele montou o time, com o campeonato em andamento, já começando o 2º turno. E o 2º turno nós deslanchamos, nós não perdemos para ninguém.

E depois de 70, o que aconteceu, porque o Atlético só foi ganhar de novo em 82. O que aconteceu, foi algum problema extra-campo?
Olha, 71, 72, 73, 74, 75, 76, nós só não éramos campeões porque nós éramos esbugalhados dentro de campo. No interior, vocês não imaginam o que a gente passava, o que os árbitros faziam com gente. Mas tinha árbitro que aplicava cartão amarelo simplesmente porque você olhava para o lado e ele dizia ‘você mexeu comigo, cartão amarelo'. E no outro lance ele ia lá e expulsava. O Coritiba ia para o interior e não perdia para ninguém, porque os árbitros não deixavam o Coritiba perder. E isso aconteceu realmente. Pena que na época não tinha a televisão para mostrar os jogos como tem hoje, porque os erros grosseiros que os caras faziam. ‘Vocês vêm jogar aqui, vocês querem ganhar, vocês estão pensando o que, vocês não vão ganhar'. E você vai e fica quieto. E a gente ganhava, mas perdia um jogo ou outro e chegava na decisão, por exemplo, contra o Coritiba, sempre precisando ganhar, nunca podendo empatar. E o Coritiba se encolhia e a gente em cima, em cima, em cima e daqui a pouco eles vão no contra-ataque, gol, e ganhavam de 1 a 0.

E hoje? Você acompanha os jogos do Atlético? Vai à Baixada?
Não, não vou à Baixada,dificilmente vou à Baixada. Não é porque eu não goste de assistir os jogos na Baixada. Hoje a Baixada para você assistir jogo, a Arena, não tem coisa melhor no Brasil, no conforto não existe igual. Mas, eu chego no campo e todo mundo me conhece, porque eu mudei muito pouco, quando eu joguei já tinha cabelo branco. E eu chego no campo e um cara da minha época senta do meu lado e fica conversando comigo, falando, falando e o que acontece, eu tenho que dar atenção para o cara. Porque senão ele fala, ‘puxa, esse cara é um boçal, eu venho aqui, sento do lado dele e ele não fala comigo'. E às vezes, você vai responder para o cara e não vê o gol. E no campo não tem replay. E você fica constrangido de não dar atenção para o cara, não vê o jogo, perde lances capitais da partida. Eu gosto demais de futebol.

 

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