O Atlético e eu

por Sérgio Surugi de Siqueira
Professor universitário. Filho do ex-presidente Renato de Siqueira e de Arnaldo de Loureiro de Siqueira, um dos fundadores do Atlético. O texto abaixo é inédito.

Algumas coisas importantes na vida da gente são marcadas por um determinado momento, muitas vezes solene, que serve de recordação e muitas vezes certifica o fato, estabelecendo um marco na história de uma pessoa.

É assim com o dia do nascimento, batizado, aprovação no vestibular, formatura, casamento, enfim, até o dia da morte pode ser documentado. É bem possível que algumas pessoas saibam e possam contar algo sobre o dia solene em que se tornaram atleticanos. Eu não posso.

Na história da minha vida, o momento no qual eu adquiri uma das características mais marcantes e da qual eu tanto me orgulho, nunca pode ser lembrado. Eu não tenho idéia do momento em que me tornei atleticano. Eu não lembro sequer do primeiro jogo do Atlético ao qual eu assisti.

Lembro que a infância dos rubro-negros, no final da década de 60 e durante os anos 70, foi muito difícil. Mais fácil teria sido desistir daquela paixão ingrata, pois que nesta época fomos obrigados a assistir ao nosso maior rival se abarrotar de títulos, a maioria deles conquistados de maneira desonesta.

Felizmente, os princípios e valores do verdadeiro atleticano sempre foram mais fortes e desta forma fomos agüentando, muitas vezes chorando de raiva ao assistir ao nosso amado Atlético ser roubado dentro e fora do campo por uma quadrilha que dominava o futebol naquela época.

As injustiças eram capazes de nos derrotar circunstancialmente, porém não nos enfraqueciam, pois ao contrário dos outros, o atleticano não é só um torcedor do time do Atlético, mas é antes de tudo um apaixonado por uma causa que vai muito além daquilo que pode acontecer durante as partidas de futebol.

Eu crescia confundindo minha vida com a do Atlético. Ia a treinamentos durante a semana, participava de churrascos no antigo bosque dos pinheiros no Joaquim Américo e acompanhava todos os jogos. Eram tempos de vacas-magras e os atleticanos tinham que colaborar com algum dinheiro, muitas vezes sacrificando algumas necessidades pessoais ou familiares, para que o objeto de sua paixão continuasse existindo.

Também (e por causa disto) eram tempos de heroísmo e Deus sabe como o idealismo e o verdadeiro amor dos rubro-negros, contrapondo-se às enormes dificuldades, foi importante para que o clube atingisse a grandeza dos dias atuais.

Na minha infância, os amigos, para serem amigos, tinham que ser atleticanos. Os do outro time, até podiam ser bons companheiros, mas chegava um certo momento no qual a comunhão se desfazia. O momento do desencanto era exatamente quando se falava em futebol. Aí o mundo se dividia entre os bons e os maus, entre o certo e o errado, enfim, entre os atleticanos e os outros.

Era um conceito de abstração (ou falta dela) permitido a um menino, que tinha como grande exemplo de vida o seu avô, um dos fundadores do Club "Athletico" Paranaense e que nutria uma grande e respeitosa admiração por seu pai, um ex-presidente do mesmo Atlético.

Em nossa família (graças a Deus) nunca foi permitido escolher o time de preferência. Todo mundo decidia a profissão, as namoradas e até a religião, mas o time do coração ra como o sobrenome, não tinha como escolher ou mudar; havia que amar, honrar e, principalmente, defender.

Por tudo isto, é muito difícil falar sobre a minha paixão pelo Atlético. Não sei muito sobre este sentimento. Não sei quando, nem como começou. Ele simplesmente se confunde com a minha própria existência.

Viva o meu Clube Atlético Paranaense, minha paixão, minha vida em vermelho e preto.


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