Discurso em agradecimento ao título paranaense de 1943 por Manoel Aranha Minhas senhoras! Meus amigos do Atlético. Alguém disse, um dia, que todos nós nessa vida não éramos, com nossas ambições, mais do que retratos à cata de molduras. E, muitas vezes, quase sempre, a moldura é maior que o retrato. Foi assim que me senti com a notícia dessa homenagem. Tudo fiz para que a manifestação não se consumasse. Mas fui vencido. Paciência. E ainda mais vencido me confesso, depois de escutar a palavra fascinante desse grande espírito que é o Professor Alô Guimarães, figura exponencial da geração moça do Paraná. O orador se excedeu. Não teve limites na sua generosidade. Foi desmedido no seu carinho. Mas tudo se justifica quando é uma voz paranaense que se levanta. E o coração paranaense comanda sempre. Esta noite de encantamento, esta noite que é uma festa para os olhos, é a minha noite de glória. É a apoteose que surge da magia de um sonho. Foi ontem que cheguei aqui. E a cidade logo me envolveu na sua fascinação. Um momento, sequer, senti a estranheza de uma terra estranha. Tenho a impressão clara e certa de que sempre vivi em Curitiba, partilhando com todos vós, horas de intensa alegria e momentos de preocupações. O lugar onde nasci tem para mim, hoje, o doce sabor das reminiscências e a saudade evocativa dos meus mais próximos. Confirmador do que digo, recordo de um episódio, eloqüente na sua simplicidade. Pouco antes do início do último jogo entre paranaenses e gaúchos, obrigaram-me a falar ao microfone instalado no campo. Dias depois, recebi uma carta queridíssima lá dos pampas. Começava assim: “Meu filho: ouvi, comovida, você falar no rádio. Fiquei surpresa. Você não parece mais gaúcho”. Era minha mãe compreendendo que me sentia integrado à vida dessa terra acolhedora e generosa. Lamento que sua ausência imposta pelas circunstâncias a impeça de vibrar conosco ante a beleza destas emoções. Tenho vivido com a mocidade de vários clubes esportivos do Brasil. Deixei pelo caminho pedaços de minha alma. Mas, no Atlético, tudo é diferente, e nele deixei a totalidade de mim mesmo. E por que tudo é diferente? Não é difícil explicar. O rubro-negro nasceu de duas vidas que se fundiram: Internacional e América. Dois rivais do mesmo tempo. E o Atlético tornou-se a vida social-esportiva da cidade. Um nome ligou o passado ao presente: Joaquim Américo Guimarães! Nome que é uma bandeira. E o Atlético veio vindo. Vencedor ou vencido, não estacionou. Avançou sempre. Sempre porque tem por símbolo o Clube da Raça! Clube que não conhece interesses individuais. Clube que empolga pelo seu entusiasmo comunicativo, pela sua combatividade sem esmorecimento, herdados do América e Internacional, transmitidos por Joaquim Américo Guimarães.
E agora devo fazer uma confissão sincera, despida de vaidades. Nada fiz pelo Atlético. Nada fiz para merecer tanto. É bem verdade que o rubro-negro levantou quase todos os campeonatos da temporada de 1943. Mas estes triunfos foram conquistados pela bravura dos seus atletas, que vão ao sacrifício quando o sacrifício é o preço de uma vitória. A minha diretoria nada mais fez que velar e incentivar essa bravura. Apenas isto e nada mais. Esta é a verdade dentro das suas legítimas proporções.
Meus amigos, já vos disse que no Atlético tudo é diferente. Quer se trate de manifestar energia e raça, quer se cuide de expressão dos mais delicados sentimentos. Num requinte de fidalguia, vocês estenderam a homenagem de hoje à minha queridíssima companheira. E vocês não vieram sós. Trouxeram suas gentilíssimas esposas. É o colorido mais vivo no esplendor desta festa. É a prova mais cativante de apreço, de carinho e de amizades diferentes. Delicadeza de um gesto que confunde na doçura da nossa gratidão. Se algum dia o destino nos levar para outras terras, a visão desta noite viverá na saudade. Não esqueceremos nunca. E nunca. Esta noite de encantamento, esta noite que é uma festa para os olhos, é a nossa festa de glória. Estamos vencidos pelo coração. O poeta disse bem: “Há momentos em que qualquer que seja a posição do corpo, a alma está sempre ajoelhada”. E é com a alma ajoelhada, minhas senhoras, que beijo vossas mãos e agradeço essa homenagem. |