Jones Rossi

Jones Rossi, 46 anos, é repórter do Jornal da Tarde, em São Paulo, e um dos fundadores do blog De Primeira. Foi colunista da Furacao.com entre 2005 e 2008.

 

 

Por uma vida menos ordinária

22/05/2005


Vélber, reserva do São Paulo, ganha 70 mil reais por mês. Gabriel, atual lateral sensação do Fluminense, ganhava 80 mil no mesmo São Paulo. Também era reserva, após um breve período como titular. O salário da maioria dos titulares ultrapassa os 100 mil reais. E mesmo assim não é um time de encher os olhos. Ou alguém aí liga a televisão para ver a habilidade de Danilo, os dribles de Cicinho ou o oportunismo de Grafite? No entanto custa muito caro manter este time que, há mais ou menos uns dez anos, nunca teria condições de ser considerado um dos candidatos ao título do campeonato brasileiro.

De onde o São Paulo tira tanto dinheiro? Dizem os dirigentes que precisam vender pelo menos um craque por ano para manter o time. Nos últimos tempo se foram França, Kaká e Luís Fabiano, para ficar entre os mais conhecidos. Eles também estão entre as equipes que mais recebem dinheiro da TV, junto com Corinthians, Flamengo, Palmeiras e Vasco. Ainda há os contratos de patrocínio, entre os mais vultosos do País. Isto tudo vem garantindo ao tricolor paulista times competitivos, sempre disputando títulos - e até ganhando alguns.

O Atlético, a despeito de todos os esforços dos últimos anos, ainda não tem condições de ter um elenco milionário destes. É o clube que mais arrecadou em ingressos em 2004, fechou um contrato lucrativo de naming rights para a Arena e vender o Jadson por um valor ainda mais alto que o Kaká. Nada disso trouxe ainda uma saúde financeira parecida com a do São Paulo ou mesmo com a do Cruzeiro, que se parece mais com o Atlético por estar fora do eixo Rio-SP. Em suma, o Atlético ainda não tem cacife para contratar um grande nome do futebol internacional, mesmo um de menor grandeza. E esse nem é o objetivo da diretoria.

Mas deveria ser.

Não estou falando em dívidas irresponsáveis como as do Flamengo. Estou falando em criar as condições para um Atlético gigante, não só no coração dos torcedores, mas dentro do cenário internacional do futebol. Um Atlético com craques de primeira grandeza, o maior time das Américas. Lembro bem de membros da diretoria falando de um Atlético do tamanho de um Manchester, de um Real Madri. Sempre achei certo esse tipo de megalomania. Até porque pensar em ser campeão brasileiro após perder em casa para o União Bandeirantes no Estadual de 95 não parecia muito realista no momento. Ser do tamanho do Real Madri, ter uns oito títulos continentais e uns quatro mundiais também não parecem ser agora. Mas podem ser feitos. Como fazer isto é o problema.

Para começar, o Atlético precisa lucrar mais com as divisões de base. A parceria com o PSTC funciona muito bem e deve continuar. Mas está na hora dos craques surgirem do CT do Caju. Craque mesmo, como Kleberson, capaz de resolver uma Copa do Mundo. E cujo passe pertença 100% ao Atlético. Para isso seria necessário dar experiência à molecada. Um time B, como o do Barcelona, seria ideal. Teríamos jogadores quase prontos quando chegassem ao time principal.

Mais dinheiro poderia ser arrecadado no rico mercado norte-americano. Ninguém pensou nisso ainda, mas o que impede o Atlético de criar uma franquia própria na Major League Soccer? Ou de criar uma parceria com um time de lá? No mercado norte-americano não existe pirataria, o que seria uma maravilha para a venda de produtos oficiais do Atlético. O Real Madri já prestou atenção nisto e, simultaneamente ao lançamento do filme Bend it like Beckham nos EUA, lançou por lá a camisa do craque com o número 23 para estabelecer vínculo com o número de Michael Jordan. Um time do Atlético nos EUA poderia ser uma boa fonte de renda. A mesma coisa na China, onde o Rubro-Negro já possui escolinhas.

As franquias de escolinhas devem ser ainda mais estimuladas. Além da rendas das mensalidades e do retorno em torcedores, dali podem surgir craques. É preciso que os professores estejam atentos.

E nem vou falar das inúmeras possibilidades de uso da Arena em dias sem jogos porque a diretoria já sabe muito bem o que fazer. Dá para ganhar dinheiro com um estacionamento maior e outras melhorias. Mas isso é coisa para depois da conclusão.

Com mais dinheiro entrando no caixa do Atlético, finalmente poderíamos manter craques como Washington ou Jadson. Ainda teríamos que nos desfazer de vez em quando de um ou outro, mas cada vez mais caro, pois seria mais fácil segurá-los por mais tempo. Conseqüentemente o Atlético ganharia em publicidade em cima desses próprios jogadores. Vejam o exemplo de Washington. Nos últimos anos somente ele rivalizou com Robinho no quesito popularidade. Eu vi crianças em São Paulo jogando bola e comemorando gols gritando seu nome. Um ídolo assim não tem preço.

A televisão teria de pagar mais para mostrar os jogos do Furacão. Mais TV significa contratos maiores de publicidade, que significa mais dinheiro, mais craques e assim por diante. Seria a entrada definitiva do Atlético no rol dos times milionários do planeta. Estádio lotado por toda a temporada.

É claro que no papel tudo é mais fácil. A diretoria do Atlético sempre foi competente no marketing e sabe melhor que ninguém como continuar fazendo o clube crescer. Mas está na hora de recuperar a vontade de transformar o Rubro-Negro no maior time do mundo. Assim como nunca nos contentamos em ser apenas os melhores do Paraná, não dá para se limitar ao Brasil. Está na hora de começar a pensar seriamente nisso. Nosso time tem de entrar em crise quando não for campeão nacional. Pensar em sair da lanterna é muito pouco.


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