Quem canta vitória antes da hora...

por Marçal Justen Neto

Todo torcedor mais experiente sabe que existe uma regra fundamental no futebol: não se canta vitória antes da hora. Portanto, descartam-se os gritos de “é campeão” proferidos com antecedência, bem como a tradicional “está chegando a hora”. Em um clássico, o cuidado deve ser redobrado. Qualquer vibração antecipada e o resultado positivo pode ir por água abaixo em segundos.

No clássico Atletiba do Campeonato Brasileiro de 1996, a torcida do Coritiba infringiu essa regra e não saiu impune da Baixada. O Furacão fazia ótima campanha e era favorito para o jogo. Era o auge do time que contava com Oséas, Paulo Rink, Ricardo Pinto e os polacos Nowak e Piekarski.

Rink não jogou a partida (estava suspenso), mas seu substituto também era um artilheiro: Luiz Carlos. Oséas, pelo visual e pelos gols, era o jogador mais temido pelos coxas. Porém, dentro de campo o resultado não veio tão fácil como era esperado por ambos os lados.

O jogo foi disputado e houve cinco expulsões (três do Coritiba, duas do Atlético). Os torcedores pareciam não acreditar no que viam: mesmo com um time melhor tecnicamente, o Atlético não conseguia furar a forte barreira alviverde e a partida se encaminhava para o empate sem gols.

Mais empolgados do que o normal, os coxas resolveram abusar. Começaram as provocações a Oséas, principal ídolo atleticano e que ainda não havia marcado gols em Atletibas. Os gritos de “Oséas, Oséas, Oséas” vinham do lado verde das arquibancadas e o tom irônico expressava a alegria dos adversários pelo atacante não conseguir confirmar sua fama de artilheiro.

Ao invés de irritar, os gritos inspiraram Oseás. Tomado pela raça rubro-negra, ele encarnou o espírito atleticano. E, aos 44 minutos do segundo tempo, não perdoou. Recebeu passe na entrada da área, avançou e tocou na saída de Anselmo. O chute saiu fraco, mas certeiro. Era o gol da vitória.

Alucinado, o artilheiro dos cachinhos subiu nos alambrados do Joaquim Américo. Parecia querer pular para a arquibancada, tirar as chuteiras e deixar de ser jogador. Naquele momento, ele era um autêntico atleticano, comemorando a derrota dos coxas e celebrando a superioridade rubro-negra.

O nome de Oséas não deixou de ser ouvido na Baixada. Como que combinado pelos torcedores, no momento que o grito dos coritibanos parou, começou o dos atleticanos, sem interrupção.


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