Esse árbitro é louco

por Marçal Justen Neto

Quantas vezes árbitros de futebol já foram chamados de loucos? Acusados de estarem fora de seu estado normal, marcando pênaltis inexistentes, ignorando faltas claras e prejudicando descaradamente uma equipe. Ao longo da história, o Atlético sofreu muitas vezes com a arbitragem, chegando inclusive a perder títulos.

Pois em 1947 a indignação atleticana não ficou apenas nas acusações das arquibancadas. Afinal, ninguém aceita pacificamente ver seu time prejudicado justamente em um Atletiba!

No clássico disputado em 23 de fevereiro de 1947, válido pelo terceiro turno do Campeonato Paranaense de 46, foi o que aconteceu. O Atlético saiu na frente com um gol de Rui, sobrinho de Caju. Aos 16 minutos, o árbitro Ataíde Santos marcou pênalti de Joaquim em Gouveia e ainda expulsou o atleticano.

A marcação causou grande revolta, pois Gouveia havia agredido Joaquim antes, que revidou fora da área. Mesmo com as reclamações, o pênalti foi cobrado e o Coritiba empatou o jogo. No segundo tempo, o time alviverde abusou das jogadas violentas, sem qualquer repressão por parte da arbitragem. E, assim, conseguiu a virada.

O Atlético lutava pelo empate quando veio o golpe final de Ataíde Santos: o encerramento do jogo aos 42 minutos do segundo tempo, antes, portanto, do tempo regulamentar. Rapidamente, o time adversário se retirou de campo e o jogo não pôde prosseguir mesmo com os protestos.

Mas desta vez a “loucura” do árbitro não passou em branco. Representado pelo advogado Jofre Cabral e Silva (filho do então presidente João Alfredo Silva e ele mesmo futuro presidente do clube em 68), o Atlético ingressou no TJD. Pediu a anulação do jogo e um exame de sanidade mental em Ataíde Santos!

Comprovando o acerto da tese atleticana, a partida foi de fato anulada em março de 1947. Porém, não foi disputada uma nova partida, pois o Coritiba já havia conquistado o título e não poderia ser ultrapassado nem mesmo com derrota no clássico.

Quanto a Ataíde Santos, ele foi submetido ao exame de sanidade mental. O resultado não comprovou cientificamente a loucura, mas o presidente Jofre definiu bem o pensamento da torcida: “Se não é louco, então é ladrão”.


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